Empresa norte-americana compra carvão de carvoaria ligada a trabalho escravo no Pará, diz site - Estado do Pará Online

Empresa norte-americana compra carvão de carvoaria ligada a trabalho escravo no Pará, diz site

Investigação do site Repórter Brasil, referência em fontes de informação sobre trabalho escravo no país, apurou que dois empresários com fazendas autuadas por trabalho escravo e inclusas na 'Lista Suja' foram os principais fornecedores de lenha para a carvoaria.

Uma investigação da Repórter Brasil revelou que a Palmyra do Brasil, subsidiária da multinacional Dow Chemical no Pará, adquiriu carvão vegetal de uma carvoaria associada a fazendas onde houve resgates de trabalho análogo à escravidão. Dados de guias florestais mostram que a unidade paraense de produtos químicos recebeu dezenas de cargas da Carvalho Carbonização entre junho e setembro de 2025.

A carvoaria, que produz carvão a partir de queima de lenha e resíduos, era abastecida pela Fazenda Citag, em Moju (PA), onde 17 pessoas foram resgatadas de condições degradantes em 2023. A operação de extração de madeira, na qual os resgatados trabalhavam, inclusive, levou a Carvalho Carbonização a manter um pátio de operação dentro da Citag.

Na mesma fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que identificou os abusos na Citag, outras 16 pessoas foram flagradas em condições análogas à escravidão em uma propriedade vizinha, a Fazenda Sipasa, pertencente à Sipasa Seringa Industrial do Pará S/A. A Carvalho Carbonização também possuía contrato para aquisição de madeira proveniente de desmatamento dessa Fazenda Sipasa, segundo nota técnica da Semas-PA.

O fornecimento de lenha para a Carvalho Carbonização nos últimos três anos dependeu majoritariamente de propriedades registradas em nome de dois empresários: Wilson Fabrício Campos de Sá, autuado pelo flagrante na Fazenda Citag, e Márcio Roberto Pinto Lisboa Pinheiro, um dos sócios da companhia dona da Fazenda Sipasa. Esses empresários são responsáveis pela exploração florestal em diversas áreas que abasteceram a carvoaria, incluindo as Fazendas Seringal Maísa, Água Clara e Magesa.

Os empregadores ligados às Fazendas Citag e Sipasa foram incluídos em abril de 2025 na Lista Suja do trabalho escravo, um cadastro federal que restringe relações comerciais de diversas empresas com os nomes listados. Apesar disso, a Carvalho Carbonização continuou comprando matéria-prima da Fazenda Magesa, uma propriedade que faz fronteira com a Fazenda Sipasa e que também é ligada ao sócio Márcio Roberto Pinto Lisboa Pinheiro.

A Palmyra, cuja planta industrial em Breu Branco (PA) utiliza o carvão vegetal para fabricar silício metálico, exporta o produto para a Dow nos Estados Unidos desde 2021. Embora a Dow afirme publicamente ter compromissos contra trabalho forçado, as empresas não se manifestaram sobre o caso ou as compras da subsidiária até a publicação original, mantendo o espaço aberto para futuros esclarecimentos.

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