Ribeirinhos se reúnem em Belém para III Encontro de Abridores de Letras - Estado do Pará Online

Ribeirinhos se reúnem em Belém para III Encontro de Abridores de Letras

Evento aposta em novas metodologias para transmitir o saber tradicional por diversas regiões do Brasil no ano que celebra o centenário do ofício dos abridores de letras

De diferentes rios e portos do Pará, mais de 20 mestres ribeirinhos vão se reunir, em Belém, no III Encontro de Abridores de Letras do Pará, que ocorre no próximo sábado (6), na Casa da Redação. A programação fortalece os vínculos de uma comunidade que transforma barcos em telas flutuantes e resiste como guardiã de uma das expressões gráficas mais singulares da Amazônia, ofício que, em 2025, celebra cem anos de história.

Os abridores de letras irão ministrar uma série de oficinas fora de suas comunidades, patrocinado pela CAIXA e viabilizado pela CAIXA Cultural Belém, que levará, em um inédito circuito nacional que percorrerá unidades da Caixa Cultural em BelémCuritibaSão PauloRio de JaneiroBrasíliaSalvadorRecife e Fortaleza, a partir de outubro. O projeto, batizado de “Letras que Navegam – Oficinas de Letras Amazônicas pelo Brasil”, leva o ofício amazônico para diálogo direto com novos públicos, sobretudo estudantes da rede pública.

Oficinas e trocas de saberes

Durante o III Encontro, os abridores participam de uma oficina conduzida pela professora Marcela Castro, mestra em Análise do Discurso pela UFPA e especialista em metodologias pedagógicas. Atuando como mediadora entre a prática dos mestres e estratégias de ensino, Marcela ajudará a sistematizar formas de transmitir esse saber.

“Nosso objetivo é ajudar a estruturar metodologias, de modo que esses saberes possam alcançar mais pessoas e gerar novas oportunidades de renda e reconhecimento. Cada abridor tem um modo próprio de ensinar, e isso é riqueza. A ideia é construir juntos caminhos para que esse conhecimento seja multiplicado, garantindo que eles sejam os protagonistas dessa transmissão”, explicou Marcela.

A preparação pedagógica permitirá que os mestres estejam aptos a atuar como educadores em diferentes contextos, ampliando sua autonomia e fortalecendo a renda por meio da realização de oficinas em escolas, centros culturais e universidades.

Ofício centenário

A prática de abrir letras remonta a 1925, quando um decreto da Capitania dos Portos tornou obrigatória a identificação pintada em barcos da Amazônia. A tradição, que começou com inscrições em preto e branco, foi se transformando a partir das trocas entre embarcações de diferentes regiões. Cada abridor desenvolveu seu próprio estilo — ou “sotaque”, como definem os mestres —, criando uma estética única no mundo. Cada embarcação que cruza rios e igarapés carrega, pintada no casco, uma narrativa coletiva de memória, identidade e pertencimento. Cem anos mais tarde, o ofício vislumbra seu fortalecimento enquanto identidade cultural no país. 

Serviço:

III Encontro de Abridores de Letras do Pará

6 de setembro de 2025

Casa da Redação, Belém (PA)

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