A União Europeia (UE) deu um passo sem precedentes nesta segunda-feira (28) ao propor a suspensão parcial da participação de Israel no Horizon Europe, o principal programa europeu de pesquisa e inovação. A medida é vista como uma forte sinalização política do bloco europeu diante do agravamento da crise humanitária na Faixa de Gaza.
A proposta precisa do aval de uma maioria qualificada dos Estados-membros para entrar em vigor — isso significa que ao menos 15 dos 27 países da UE, representando pelo menos 65% da população do bloco, devem apoiar a medida. Se aprovada, será a primeira vez que a UE aplica uma sanção desse tipo contra o governo de Benjamin Netanyahu.
Em comunicado oficial, a Comissão Europeia justificou a proposta como uma reação direta à revisão da conformidade de Israel com a cláusula de direitos humanos presente nos acordos bilaterais com o bloco. Essa cláusula é uma condição básica para a cooperação entre a UE e países terceiros — e seu descumprimento pode acarretar sanções políticas e econômicas.
O Horizon Europe movimenta quase 100 bilhões de euros em investimentos para inovação científica e tecnológica até 2027. Israel, embora não faça parte da UE, é um parceiro associado do programa desde os anos 1990, com acesso privilegiado a financiamento e colaboração científica com universidades e centros de pesquisa europeus. Com a possível suspensão parcial, projetos israelenses podem ser excluídos de futuras rodadas de financiamento.
A decisão ocorre em meio a crescentes apelos de países europeus para que se aumente a pressão internacional sobre Israel, visando aliviar a crise humanitária provocada pela prolongada ofensiva militar em Gaza, que já deixou milhares de civis mortos, segundo organizações humanitárias internacionais.
Enquanto alguns governos do bloco — como Irlanda, Bélgica e Espanha — têm defendido uma postura mais crítica frente ao governo israelense, outros países, como Alemanha e Hungria, mantêm posições mais cautelosas, o que pode tornar a aprovação da proposta uma disputa política delicada nos bastidores de Bruxelas.
Caso a suspensão seja confirmada, ela representará não apenas um revés diplomático para Netanyahu, mas também um recado claro de que a UE está disposta a usar mecanismos de pressão além dos discursos oficiais. Analistas internacionais apontam que esse gesto pode inaugurar uma nova fase nas relações euro-israelenses, marcada por um escrutínio mais rigoroso sobre o respeito aos direitos humanos e ao direito internacional humanitário.
Nos próximos dias, a proposta será debatida em reuniões técnicas e políticas entre os países-membros. A expectativa é de que uma decisão final seja anunciada nas próximas semanas, em meio a um cenário global cada vez mais sensível às consequências do conflito no Oriente Médio.
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