A descoberta de um animal nunca antes visto vivo é um marco para a ciência. E quando essa descoberta acontece em solo paraense, o feito ganha ainda mais relevância. Foi o que ocorreu com a aranha Tapixaua callida, espécie descrita há mais de duas décadas apenas por exemplares de museu, e que agora teve seu comportamento documentado pela primeira vez.
Durante uma viagem a Paragominas, no sudeste do Pará, o pesquisador César Favacho acabou descobrindo uma pequena aranha com jeito de formiga — enquanto esperava socorro após o carro em que estava dar problema. “Durante as quase três horas esperando resgate, fiquei andando pelo mato e acabei flagrando o bicho”, disse César em entrevista para o Estado do Pará Online (EPOL). A surpresa veio quando ele descobriu que havia acabado de encontrar viva, pela primeira vez, uma aranha descrita há mais de 20 anos pelo biólogo Alexandre Bonaldo: a Tapixaua callida.
A descoberta foi documentada em um estudo publicado neste ano, liderado por Cláudia Xavier, pesquisadora do Museu Goeldi especializada em aranhas. Ela estuda esses animais há mais de uma década e ficou responsável por reunir os registros em um artigo científico. “Desde a graduação também faço diferentes trabalhos de divulgação científica sobre aracnídeos e outros artrópodes”, contou Cláudia ao EPOL. O comportamento da aranha imita o de formigas como forma de se proteger de predadores — uma estratégia conhecida como “mimetismo”.

A aranha não só parece uma formiga no formato, mas também se movimenta como uma. Quando para, estica as pernas da frente imitando as antenas desses insetos. Um dos detalhes mais curiosos é que ela mexe só a pontinha da perna, para dar ainda mais realismo à encenação. Esse tipo de comportamento ajuda o bicho a se disfarçar no ambiente, e foi nomeado pelos cientistas de “mimetismo delemaniano”, em homenagem à pesquisadora Christa Deeleman-Reinhold, que havia observado algo semelhante em uma aranha asiática.
A imitação da formiga não é à toa — é uma estratégia de sobrevivência. A Tapixaua callida adota esse disfarce para enganar predadores, já que muitas formigas têm gosto ruim, mordem ou liberam substâncias tóxicas, sendo evitadas por aves, lagartos e outros animais. Ao simular o formato e o comportamento de uma formiga, a aranha aumenta suas chances de passar despercebida.
Embora aranhas também tenham veneno, no caso da Tapixaua, ele é usado apenas para capturar presas pequenas e não serve como defesa contra predadores maiores. Imitar uma formiga acaba sendo mais eficaz do que lutar ou fugir. Apesar da aparência curiosa, a espécie não é venenosa para humanos e não oferece risco algum. Trata-se de um pequeno animal inofensivo que só quer se proteger na floresta.
Além do registro vivo, o estudo também mostrou que a Tapixaua callida vive em mais lugares do que se imaginava: além do Brasil, ela já foi encontrada no Peru, na Colômbia e na Bolívia. O artigo traz fotos e vídeos inéditos, inclusive mostrando a aranha perto de uma toca — algo também inédito para a espécie. O conteúdo completo está disponível no boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi.
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