Silenciosa, crônica e potencialmente fatal, a Doença de Chagas continua sendo uma ameaça à saúde pública no Brasil. Causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida principalmente por insetos chamados barbeiros, ela pode permanecer assintomática por anos antes de causar complicações cardíacas graves em parte dos infectados.
Além do impacto direto na saúde, a doença acarreta prejuízos econômicos e sociais relevantes, afetando a qualidade de vida, a produtividade e sobrecarregando os sistemas de saúde, sobretudo em comunidades com infraestrutura precária. Apesar dos avanços no controle do vetor, um novo fator de risco preocupa os especialistas: as mudanças climáticas.
Um estudo publicado na revista Medical and Veterinary Entomology aponta que o aumento das temperaturas pode levar à expansão de espécies transmissoras da Doença de Chagas para novas áreas da Amazônia, antes consideradas de baixo risco. A análise se baseou em mais de 11 mil registros de ocorrência de 55 espécies de barbeiros.
As projeções indicam uma possível migração dos barbeiros para novas regiões da floresta, sobretudo sob condições climáticas mais extremas. Isso amplia o risco para populações já vulneráveis e com pouco acesso à saúde.
“Essas projeções são um alerta claro. O avanço dos vetores pode surpreender os sistemas de saúde despreparados”, diz Leandro Schlemmer Brasil, autor principal do estudo.
Para o professor Leandro Juen, da UFPA e coautor da pesquisa, o trabalho reforça a necessidade de integrar diferentes áreas do conhecimento na formulação de políticas públicas.
“É fundamental unir vigilância em saúde, políticas ambientais e ações de adaptação às mudanças climáticas”, afirma.
Entre as medidas sugeridas, estão o fortalecimento da vigilância entomológica, ações educativas e melhorias nas condições de habitação em áreas de risco. O estudo também serve como base para o monitoramento de outras doenças transmitidas por vetores, como malária, dengue e leishmaniose.
A pesquisa foi desenvolvida dentro das redes INCT-SinBiAm e PPBio Amazônia Oriental, que reúnem cientistas de diversas instituições, como UFPA, UFMT, Ufra, Instituto Evandro Chagas e Universidade de Bristol. O objetivo é ampliar a produção de conhecimento sobre biodiversidade e saúde pública na Amazônia, com base em dados robustos e colaborativos.
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