Um grande gramado entre dois ícones da arquitetura carioca — a Igreja da Candelária e o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) — foi o cenário escolhido para a edição do Vigília pela Terra no Rio de Janeiro, realizada neste sábado (30). O encontro inter-religioso reuniu líderes de diferentes tradições de fé e centenas de participantes para refletir sobre a crise climática e a necessidade urgente de frear o aquecimento global.
O evento acontece a pouco mais de 70 dias da COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que será realizada em Belém, entre os dias 10 e 21 de novembro.
Fé e meio ambiente
Organizada pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser), a vigília teve apresentações musicais, dança, gastronomia e mensagens de líderes espirituais sobre a importância da preservação ambiental.
Segundo a diretora-executiva do Iser, Ana Carolina Evangelista, a mobilização busca destacar o papel das comunidades religiosas na conscientização.
“Os grupos de fé, a partir das suas vertentes, livros sagrados e crenças, são originalmente protetores da natureza e da casa comum. É fundamental que estejam aliados à causa ambiental”, afirmou.
Ela destacou ainda que o evento também combate o negacionismo climático.
“Em 2025, ainda existem forças políticas e econômicas contrárias à proteção ambiental. A vigília é um espaço de resistência e sensibilização”, completou.
Raízes históricas
A série de vigílias tem origem em 1992, durante a Rio 92, quando líderes como Dalai Lama, Dom Helder Câmara e Mãe Beata de Iemanjá participaram de uma mobilização semelhante que reuniu cerca de 30 mil pessoas.
Neste ano, o circuito já passou por Brasília e Porto Alegre, e após o Rio seguirá para Manaus, Natal e Recife. O ponto alto será em Belém, no dia 13 de novembro, na véspera da COP30.
Vozes da espiritualidade
Entre as falas marcantes do encontro, o babalaô Ivanir dos Santos, do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), destacou a centralidade da natureza nas religiões de matriz africana.
“Terra, água e fogo são sagrados. Quando há desequilíbrio nesses elementos, todos sofremos. É justamente quando a natureza deixa de ser sagrada que ela passa a ser explorada de forma predatória”, disse.
Já a dançarina Maria Lalla Cy Aché, do grupo Danças da Paz Universal, participou de uma apresentação meditativa no palco. Para ela, a arte também é ferramenta de transformação.
“A gente canta, dança e espalha energia positiva, com pensamentos edificantes. Precisamos de um mundo mais justo, amoroso e fraterno”, afirmou.
Mobilização nacional
De acordo com o Iser, realizar as vigílias em diferentes capitais é uma estratégia para descentralizar o debate ambiental e dar visibilidade às iniciativas locais de proteção da Amazônia e do clima.
A mobilização também reflete a pluralidade religiosa do Brasil. Segundo o Censo 2022, mais de 90% da população brasileira possui alguma crença, sendo a maioria católica (56,7%), seguida por evangélica (26,9%).
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