Vídeo de refém cavando a própria cova choca o mundo e reforça clamor por cessar-fogo imediato em Gaza - Estado do Pará Online

Vídeo de refém cavando a própria cova choca o mundo e reforça clamor por cessar-fogo imediato em Gaza

O vídeo que chocou o mundo foi publicado pelo Hamas, junto com cenas de pessoas morrendo de fome em Gaza, mas editado pelas agências de notícias. As imagens geraram protestos em Israel, onde a população cobra do governo medidas verdadeiras para a libertação dos demais reféns e a paz com os palestinos.

Um vídeo divulgado no sábado (2) pelo Hamas escancarou de forma brutal a urgência de um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Nas imagens, um refém israelense identificado como Evyatar David aparece cavando sua própria cova em um túnel subterrâneo. Visivelmente debilitado e faminto, David diz acreditar que aquele será o lugar de sua morte. “Olhe para mim, olhe o quão magro estou. Isso não é ficção, isso é real”, afirma.

A gravação é datada de 27 de julho, segundo o próprio refém. No vídeo, ele mostra uma lata de lentilhas entregue pelos sequestradores, dizendo que será sua única refeição pelos próximos dias. Em seguida, com voz embargada, relata que cava o chão com uma pá, acreditando estar construindo seu túmulo. “Todos os dias meu corpo fica mais fraco. Essa é a cova onde acredito que serei enterrado”, diz, em desespero.

Esse é o segundo vídeo de reféns divulgado pelo Hamas em dois dias, numa aparente tentativa de pressionar Israel a permitir mais ajuda humanitária em Gaza — uma região devastada por meses de guerra e à beira da fome extrema, como alerta a ONU.

Israelenses protestam e cobram o governo de AP Photo/Leo Correa

O choque causado pelas imagens provocou reações imediatas. “O mundo não pode permanecer em silêncio diante do abuso sádico e deliberado dos reféns, o que inclui a fome como arma”, disse o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar. Protestos explodiram em Tel Aviv, onde milhares pediram a libertação dos reféns. “Eles estão à beira da morte”, declarou o irmão de David, Ilay. “Na condição em que estão, talvez tenham apenas alguns dias de vida.”

Protestos em Israel pressionam governo que segue responsabilizando o Hamas pela situação dos reféns e dos palestinos e conta com o apoio dos EUA para manter os ataques à Gaza.

Impasse nas negociações

Galya David (L) e Ilay Yosef David (R), mãe e irmão, sentam-se ao lado de um retrato de Evyatar David, que foi capturado por militantes do Hamas durante o ataque de 7 de outubro e está sendo mantido como refém em Gaza, enquanto participam de uma coletiva de imprensa em Atenas no dia 6 de novembro de 2023. Angelos Tzortzinis—AFP/Getty Images

Enquanto isso, as negociações por um cessar-fogo continuam travadas. O plano de um armistício de 60 dias, que também previa a libertação de parte dos reféns, naufragou na semana passada. No entanto, o enviado do presidente Donald Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, disse às famílias dos reféns que está trabalhando com o governo israelense para um plano que possa pôr fim à guerra e permitir a reconstrução de Gaza.

Famílias de reféns protestam, exigindo a libertação do cativeiro do Hamas na Faixa de Gaza, na praça conhecida como praça dos reféns em Telavive, Israel, sábado, 2 de agosto Ariel Schalit/AP.

Apesar disso, o Hamas não cede. O grupo insiste que só abrirá mão da resistência armada se for criado um Estado palestino independente, com Jerusalém como capital. Israel, por sua vez, mantém ataques contra alvos do Hamas e responsabiliza o grupo pela tragédia humanitária em Gaza.

Gaza agoniza

A crise humanitária em Gaza se aprofunda a cada dia. Neste domingo (3), autoridades locais relataram a morte de pelo menos seis pessoas por fome. A ONU denuncia que os lançamentos aéreos de alimentos são insuficientes e que Israel precisa permitir urgentemente a entrada de ajuda por terra. “É uma corrida contra o tempo”, alertam organizações humanitárias.

Israel anunciou pausas nos combates e criação de corredores de ajuda, mas os obstáculos logísticos e os bombardeios recorrentes impedem a operação plena. No meio desse cenário, o Hamas declarou que permitiria o acesso da Cruz Vermelha aos reféns — desde que Israel interrompa todos os voos militares durante as entregas.

Um apelo pela vida

Desde o massacre promovido pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 — que deixou mais de 1.200 mortos em Israel e resultou no sequestro de 251 pessoas — a região mergulhou em uma das piores crises de sua história. A resposta militar israelense já matou mais de 60 mil palestinos, segundo autoridades de Gaza. Atualmente, 50 reféns permanecem sob controle do Hamas, dos quais apenas 20 seriam vivos.

O vídeo de Evyatar David cavando a própria cova não pode ser naturalizado. É o retrato cruel de uma guerra sem limites éticos, onde reféns viram armas de barganha, crianças morrem de fome e populações inteiras são dizimadas lentamente.

É preciso que o mundo — e especialmente os líderes das grandes potências — deixem a diplomacia da hesitação e assumam o protagonismo de um cessar-fogo imediato. Cada dia que passa sem ação internacional clara, mais uma cova é cavada. E não é só a de Evyatar — é a cova da humanidade.

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