Secretário de Igor Normando prova inocência, após jornal resgatar processo onde ele foi absolvido

A "notícia", que pode ser considerada como Fake News, foi criticada por jornalistas que ironizaram o fato, supondo que haja atraso em pagamentos ao jornal.

A divulgação do nome de André Cunha como futuro secretário de Desenvolvimento Econômico de Belém pelo prefeito eleito Igor Normando (MDB), foi criticada em matéria do jornal O Liberal, nesta quarta-feira (12) e gerou críticas em grupos de jornalistas. André Cunha, filiado ao PSB, já foi investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal por formação de quadrilha e crime ambiental em 2011. Na época, ele foi acusado de integrar um esquema de transporte e venda ilegal de peixes ornamentais provenientes de pesca proibida no Pará. Segundo as denúncias, André desempenhava um papel central como financiador e responsável pela exportação dos peixes ao exterior.

Ele chegou a ser preso em Santarém durante uma operação da Polícia Federal, que o vinculou ao núcleo financiador do esquema criminoso. Apesar de negar envolvimento, Cunha admitiu que um dos acusados já havia atuado como intermediário em exportações de sua empresa. Em sua matéria, O Liberal levantou críticas à composição do secretariado de Igor Normando, apontando as indicações como pouco técnicas e alinhadas a interesses partidários, segundo o jornal, gerando descontentamento entre os cidadãos de Belém. Para um memnbro da equipe de transição, não há registro de crítica ou descontentamento, além do próprio jornal.

O outro lado

Procurado pela redação do EPOL para comentar sobre o caso, André Cunha informa que em 2019 foi absolvido da acusação de exportação de peixes amazônicos. Na decisão da 1ª Vara de Santarém, o juiz do caso diz: “Quanto a acusação que recai sobre André Luiz, constato não ter sido demonstrado qualquer vínculo entre ele e os denunciados que estavam no comando do grupo. Não há nos autos prova indicado que ele contribuiu, ainda que indiretamente, para o comércio e transporte dos animais”.

André Cunha enviou prints de documentos da Justiça que o inocentam e garante que “até mesmo o Ministério Público Federal acatou sua inocência, tanto que sequer recorreu da decisão para segunda instância da Justiça Federal”.

Na decisão também consta: “absolver Andre Luiz Barbosa da Cunha da acusação de ter incorrido no mesmo delito, uma vez que após a instrução, não restou demonstrada prova de sua autoria”.

Em um grupo de jornalistas denominado “Quarto Poder”, a jornalista conhecida como “Dedé Mesquita“, ironizou a publicação da matéria de O Liberal com a seguinte pergunta: “Não caiu o PIX??????“.

Jorginho Neves, outro jornalista que compõe o grupo, complementa: “É sempre entre os dias 10 e 20, presta atenção“. E Dedé Mesquita finaliza o comentário sobre o assunto dizendo: “caralhuuuuu, enquanto não pagam, eles falam mal, como a avisar “acho BOM pagar”.

O jornalismo denuncista: um retrocesso na credibilidade

O jornalismo, enquanto pilar essencial da democracia, possui a função de informar com responsabilidade e de fiscalizar os poderes, promovendo a transparência e a accountability. Contudo, nos últimos anos, observa-se o crescente avanço do chamado “jornalismo denuncista”, uma prática que, em vez de contribuir para o fortalecimento da sociedade, parece trabalhar na direção contrária. Esse tipo de jornalismo se caracteriza pela exposição precipitada de supostos escândalos e corrupções, frequentemente sem a devida verificação de fatos ou provas concretas.

O denuncismo costuma ser guiado mais por interesses sensacionalistas do que por um compromisso real com a verdade. Sua lógica é movida pela urgência de causar impacto imediato na opinião pública, resultando em prejuízos irreparáveis às pessoas que se tornam alvos dessas reportagens. Personalidades públicas, em especial, são frequentemente visadas devido ao alto apelo midiático que seus nomes representam. No entanto, quando essas matérias são baseadas em especulações ou informações incompletas, os danos causados à reputação dos envolvidos podem ser permanentes, mesmo que as denúncias sejam posteriormente desmentidas.

Entre os principais problemas do jornalismo denuncista está a inversão do princípio da presunção de inocência. Em muitos casos, a exposição midiática transforma a figura do suspeito em culpado perante a opinião pública, sem que tenha havido julgamento ou mesmo investigação conclusiva. Esse tipo de prática, além de antiética, é profundamente prejudicial à saúde democrática de uma nação, pois descredibiliza o próprio jornalismo e coloca em xeque sua função social.

Outro ponto de destaque é a utilização de informações vazadas de maneira seletiva, muitas vezes fora de contexto. Tais práticas podem ser motivadas por interesses políticos, econômicos ou mesmo pessoais, comprometendo a imparcialidade que deveria nortear a atuação jornalística. Quando a busca pela audiência e cliques supera o compromisso com a verdade, o jornalismo abdica de seu papel como quarto poder e se torna uma ferramenta de manipulação.

O impacto do jornalismo denuncista vai além dos danos individuais. Ele também compromete a confiança do público nos veículos de comunicação. Em uma era de desinformção e fake news, é imperativo que os meios de comunicação sejam vistos como fontes confiáveis e comprometidas com a verdade. Contudo, ao adotar práticas denuncistas, a mídia contribui para o aumento do ceticismo e da polarização na sociedade.

A solução para esse problema passa por uma reflexão ética profunda no âmbito jornalístico. É necessário resgatar os valores que norteiam a profissão, como a imparcialidade, a verificação rigorosa dos fatos e o respeito aos direitos individuais. Ademais, a regulação das práticas jornalísticas e a promoção de um debate público sobre o papel da imprensa são passos fundamentais para conter os excessos do denuncismo.

O jornalismo, quando exercido de forma responsável e ética, é uma força poderosa para a promoção da justiça e da democracia. Por outro lado, quando se rende ao denuncismo, coloca em risco sua própria legitimidade e a saúde da sociedade que deveria servir. Que os profissionais da área reflitam sobre o impacto de suas escolhas e redescubram o compromisso com o jornalismo de qualidade, que informa, educa e contribui para um mundo mais justo.

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