Projeto Quintais Produtivos transforma quintais em fonte de renda e alimento no Marajó - Estado do Pará Online

Projeto Quintais Produtivos transforma quintais em fonte de renda e alimento no Marajó

Iniciativa do Ideflor-Bio incentiva produção agroecológica, fortalece a segurança alimentar e promove conservação ambiental na região

O que antes era apenas terra batida passou a se transformar em espaço de produção, renda e cuidado com o meio ambiente para dezenas de famílias do Arquipélago do Marajó. O Projeto Quintais Produtivos, desenvolvido pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), vem mudando a rotina de moradores ao incentivar o cultivo agroecológico em áreas residenciais dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Marajó.

No quintal de casa, em Soure, o vigilante Gerets Nunes Campos cultiva hoje cheiro-verde, couve, tomate, pimentão e acerola. “Antes, eu não plantava nada, não tinha nem interesse. Depois que o pessoal do projeto veio, orientou, eu fui gostando. Hoje não pretendo mais largar”, relata. Parte da produção já gera renda extra com a venda do cheiro-verde. “Além de ajudar financeiramente, é uma distração e um cuidado com a casa e com a gente mesmo”, acrescenta.

Gerets é um dos beneficiados pela iniciativa, coordenada pelo Ideflor-Bio por meio do Escritório Regional do Marajó Oriental, com sede em Soure. O projeto tem como objetivo transformar quintais domésticos em sistemas agroecológicos produtivos, contribuindo para o reflorestamento, a segurança alimentar e o fortalecimento da economia local.

Segundo a gerente regional do Ideflor-Bio, Osiane Barbosa, o projeto começou nos municípios de Soure e Cachoeira do Arari, mas já nasce com perspectiva de expansão. “A meta é alcançar os sete municípios atendidos pelo Regional, que inclui ainda Chaves, Muaná, Ponta de Pedras, Salvaterra e Santa Cruz do Arari”, explica.

Em Soure, a previsão é implantar inicialmente 130 quintais produtivos ao longo do ano, beneficiando o mesmo número de famílias. A seleção ocorre em parceria com associações locais. “A ideia surgiu após observar, em 2023, um projeto semelhante em Cachoeira do Arari. A partir disso, estruturamos um novo modelo, incluindo hortaliças e frutíferas médias e baixas, formando sistemas agroflorestais”, detalha Osiane.

Em Cachoeira do Arari, a iniciativa dá continuidade a experiências já desenvolvidas no município. O diretor de Agricultura da Prefeitura, Claudionei Lopes, lembra que o projeto local teve início em 2020. “Criamos o ‘Horta de Quintal’ e, hoje, com a parceria do Ideflor-Bio, ele segue como ‘Quintais Produtivos’. Atualmente, cerca de 15 famílias são atendidas, em parceria também com a Emater”, afirma.

Nos quintais são cultivadas hortaliças, plantas medicinais e espécies regionais. O projeto também incentiva a comercialização da produção, com apoio à participação em feiras da agricultura familiar e à inscrição dos produtores em programas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

Para o Ideflor-Bio, os resultados vão além do aspecto econômico. “O primeiro ponto é a conservação ambiental e o reflorestamento, mas também há impacto direto na renda das famílias e na segurança alimentar”, ressalta Osiane Barbosa. Segundo ela, a iniciativa alia cuidado ambiental, autonomia alimentar e valorização do trabalho familiar.

A relevância do Projeto Quintais Produtivos já ganhou visibilidade nacional. Em novembro, a experiência foi apresentada durante a COP30, em Belém, como estratégia de segurança alimentar e desenvolvimento sustentável. A proposta é que, no futuro, a iniciativa se consolide como um programa estruturado, com potencial de abastecer a merenda escolar, mercados locais e até a Ceasa, na capital paraense.

“Hoje eu cuido do meu quintal, das minhas plantas, e vejo resultado. É algo simples, mas que muda muita coisa”, resume Gerets, orgulhoso do que agora brota do solo que cultiva.

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