Por ser negro, servidor da UEPA e estudante de Direito foi torturado, preso e humilhado por agentes públicos no Pará

Servidor público da UEPA e estudante de Direito é torturado, preso e humilhado por ser negro no Pará
A cena gravada de longe por um cidadão mostra os policias militares em cima da vítima, agindo como se fossem uma matilha de cães violentos, relatou uma testemunha que nos enviou os vídeos do crime.

Senhores e senhoras, venho, neste momento, esclarecer os fatos ocorridos comigo no dia 25/06/2023, domingo, na Cidade de Paragominas no Pará.

Fato é que sou vítima de violência policial militar, e de racismo institucional, que explica uma abordagem despadronizada, irregular e desrespeitosa com um cidadão de bem.

Falo isso de forma consciente, por já ter sido integrante da Segurança Pública quando atuei como guarda municipal em outro município e por atualmente ser servidor público efetivo da Universidade do Estado do Pará, e estudante de direito.

Como agente de segurança pública, aprendi que não se deve apontar a arma na cara de um cidadão, seja ele quem for, nem mesmo chamá-lo de vagabundo, meliante, preto entre outras ofensas. Essas formas são desrespeitosas e demonstram atitudes preconceituosas que, no meu caso, se revelam por conta da minha cor de pele e minha moradia na periferia da cidade.

Não tenho dúvidas de que esses agentes criaram estereótipos de mim para me tratar de maneira desumana, degradante, vexatória e humilhante na frente de minha filha, esposa e vizinhos, conforme vocês podem visualizar nos vídeos sobre os fatos.

Naquela ocasião, eu só queria separar meu irmão de uma possível agressão a um vizinho, quando fui abordado por dois policiais apontando armas na minha cara, me chamando de vagabundo e meliante.

Com medo, entrei na minha casa e fechei meu portão e comecei a gravar; quando três policiais arrombaram meu portão, adentraram e me puxaram à força para fora e começaram a me agredir com socos por diversas partes do corpo, inclusive no meu rosto, atingindo meu nariz, momento em que cair no chão e eles começaram a me algemar, jogaram spray de pimenta no meu rosto, que se espalhou por todo o corpo e, depois de algemado, um dos policiais me deu um mata leão e me estrangulou até que eu escarrasse sangue e perdesse os sentidos.

Até mesmo a suposta vítima, o vizinho a quem meu irmão queria agredir, foi ao ministério público relatar esse ocorrido e, afirma, categoricamente, que sou inocente e vítima de preconceito racial e que se eu fosse branco não teria passado por tudo isso.

Naquelas horas de agonia, aflição e de exposição ao ridículo, eu só queria saber o porquê de todo aquele constrangimento e violência. E a única verdade é que sou vítima de racismo institucionalizado, de um sistema, corporativista, assassino da cidadania de pretos e cruel com os mais vulneráveis!

Fui torturado pelos PMs, fui levado para a UPA e o médico não me atendeu, fui ameaçado pelos PMs dentro do hospital, dentro da delegacia, não fui adequadamente ouvido pela polícia civil, mesmo sendo réu primário não tive fiança estipulada na delegacia, e fui parar no presídio na segunda feira dia 26 de junho de 2023, onde rasparam minha cabeça e barba e me lançaram em uma cela com presos efetivos do sistema penal. Eu fui torturado física e moralmente do começo ao fim, por policiais militares, civis, pelo hospital e policiais penais, tudo por conta da minha cor de pele.

Vale ressaltar que não me deram a oportunidade de me identificar e tentar explicar o ocorrido. Sou pai de família, cidadão de bem, sou servidor público Estadual, trabalho na Universidade do Estado do Pará, sou formado em gestão pública, estou cursando graduação em direito, e esse vídeo é para manifestar meu desapreço, meus sentimentos de revolta, indignação e de injustiça por estar sendo acusado de um crime que não
cometi.

Sou inocente e espero, veementemente, que a justiça seja feita. Acredito nas instituições públicas, sou consciente que nelas existem bons profissionais, mas também existem nelas maus profissionais. Dessa forma, não vou me acovardar perante essa injustiça e essas atrocidades inadmissíveis, inaceitáveis e intoleráveis.

Eu, Kleber Silva dos Santos vou continuar acreditando nas instituições públicas que foram gritantemente maculadas por ações de alguns agentes que não detém capacidades emocionais, psicológicas, cognitivas e físicas de atuar garantindo a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio em um Estado democrático de direito.

E eu preciso da ajuda de vocês, divulguem esse vídeo para ajudar na minha proteção e busca por justiça! Pois quero que o meu caso seja um exemplo ímpar de justiça social e não quero ser mais um preto morto pela polícia na periferia de uma cidade brasileira!

Por fim, quero ressaltar que o Governo do Pará, já implantou o sistema de câmeras corporais na segurança pública do Estado, mas a Polícia Militar ainda não está fazendo uso dessas câmeras, não sei por qual motivo, pois outros órgãos, como o DETRAN, por exemplo, já fazem uso. E afirmo que se a Polícia Militar estivesse usando essas câmeras corporais situações como essa não teriam acontecido.

NOTA DO EDITOR

A violência policial contra negros é um problema grave e persistente em muitas partes do mundo. Historicamente, as comunidades negras têm enfrentado discriminação e tratamento desigual por parte das forças policiais. Essa violência pode incluir abusos físicos, detenções injustas, perfilamento racial, disparos letais e outras formas de tratamento violento e desproporcional.

Cientes do dever de outros agentes públicos da lei em apurar as circunstâncias e abrir inquérito e dê respostas à sociedade sobre a responsabilização dos que abusam do poder de autoridade e causam danos irreparáveis às suas vítimas, encaminhamos email para a promotoria militar do Ministério Público Estadual, na pessoa do promotor Armando Brasil.

Além disso, estamos marcando o governador Helder Barbalho, comandante da PM paraense e chefe da Polícia Civil e dos Policiais Penais envolvidos no crime, bem como encaminhando esta matéria para as entidades Defensoras dos Direitos Humanos no Pará para que cumpram o que dizem: A defesa da dignidade humana de todos os cidadãos e a garantia dos presupostos da Lei e do Estado de Direito previstos em nossa Constituição Cidadã.

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