Belém recebe, no dia 23 de outubro, a programação especial do projeto Letras que Navegam – Oficinas de Letras Amazônicas pelo Brasil, que comemora o centenário do ofício dos mestres abridores de letras ribeirinhos.
O evento acontece na CAIXA Cultural Belém, das 18h às 20h, e é gratuito e aberto ao público. Após a etapa na capital paraense, o projeto segue para São Paulo e Curitiba, completando a primeira circulação nacional desses guardiões de uma tradição secular.
A prática de abrir letras surgiu em 1925, quando a Capitania dos Portos passou a exigir identificação pintada nas embarcações amazônicas. Com o tempo, desenvolveu-se um vocabulário visual de curvas, ornamentos e cores que carrega memória, território e pertencimento.
Pela primeira vez, os próprios mestres circulam pelo país como formadores, conduzindo oficinas e tornando visível um saber que, por décadas, permaneceu restrito às margens dos rios.
“É uma oportunidade única de mostrar a Amazônia e permitir que o Brasil conheça de perto esses artistas populares”, afirma Fernanda Martins, presidenta do Instituto Letras que Flutuam (ILQF). “Esse encontro fortalece os laços entre os mestres e consolida um coletivo que carrega um patrimônio imaterial centenário.”

Em Belém, a oficina e o bate-papo serão ministrados por Francivaldo da Silva Oliveira e Simão “Ramito” Costa Sarraf, que também visitarão escolas como o Colégio Antônio Lemos e a Escola Estadual Jarbas Passarinho, promovendo a transmissão intergeracional do saber ribeirinho.
Francivaldo, ex-vaqueiro, aprendeu a abrir letras observando o avô e familiares. “Voltar a Belém é como voltar ao ponto de partida, ao lugar onde essa arte nasceu e continua viva. A gente leva a Amazônia para o Brasil e traz o Brasil de volta para as nossas águas”, afirma.
Com 45 anos de experiência, Ramito conta que começou ainda criança, improvisando pincel com “barba de bode”, planta típica da região, para batizar o barco da mãe. Desde então, expandiu seu trabalho para muralismo coletivo e circuitos nacionais, ajudando a projetar a técnica para fora do Pará. “Nossa valorização abre portas e gera renda; é importante para que o ofício siga vivo e reconhecido”, destaca.
A etapa pedagógica que preparou a itinerância foi realizada em setembro, durante o III Encontro de Abridores de Letras do Pará, em Belém, com a formação conduzida pela pesquisadora Marcela Castro. “Cada abridor tem um modo único de ensinar, e isso é riqueza. O trabalho foi pensar juntos em caminhos para que esse conhecimento alcance mais pessoas sem perder a raiz ribeirinha”, explica Marcela.
SERVIÇO:
📅 Data: 23 de outubro de 2025
⏰ Horário: 18h às 20h
📍 Local: CAIXA Cultural Belém
🎨 Atividade: Bate-papo com demonstração ao vivo da pintura ribeirinha
🎟️ Acesso: Gratuito e aberto ao público
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