O Pará está mais feminino, mais adulto, mais idoso e mais urbano. Será mais sustentável, inclusivo e democrático?

Alessandra Haber, a deputada federal que obteve 258.907 votos e foi a mulher candidata mais votada nas eleições de 2022 e Honorata Maia de Lima, que completou 118 anos, nesta sexta-feira (5), em Irituia-PA.

Por Manoel Alves da Silva, Doutor, Professor, Sociólogo e Dornélio Silva, Mestre e Cientista Político.

O Pará está com a maioria da população feminina, mais adulta, e com a concentração maior da população nos centros urbanos (Censo 2022). Qual o impacto dessa mudança sobre a Amazônia, em particular no estado do Pará? Essa nova realidade terá influência na forma de pensar, de olhar, de ver, de perceber, de se comportar diante da realidade socioambiental amazônica e paraense? E no campo político haverá algum tipo de impacto, principalmente nas eleições municipais deste ano, 2024?

Por muitos anos se alimentou a crença de que o Brasil iria crescer, se desenvolver, iria para frente, por ser um país de população jovem. Mas agora a realidade é outra, temos um Brasil com uma população mais envelhecida, e, por outro lado, a maioria é constituída pelas mulheres. São duas situações que demandam um olhar acurado, e políticas públicas específicas e integradas.

Algumas informações quanto ao aspecto territorial, bem como da economia possibilitam visualizar o tamanho estratégico do estado no cenário regional, nacional e internacional, sem falar da floresta amazônica e sua biodiversidade e recursos hídricos. O estado do Pará é a segunda maior unidade federativa do Brasil em extensão territorial, com uma área de 1.247.954.666 km². É maior que a área da Região Sudeste brasileira, com seus quatro estados.

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O Estado também está entre os 10 maiores exportadores de grãos do País; é o estado brasileiro que mais exporta produtos minerais. Dos 6,7 bilhões de dólares exportados pelo Estado de janeiro a junho de 2020, a mineração representou 88,6%

Com o tamanho da riqueza produzida e a sua diversidade de produtos, o Pará é o maior produtor nacional de açaí, abacaxi, cacau, dendê, soja, mandioca, etc; do agronegócio, da agricultura familiar, da pecuária e mineral, dessa forma o estado do Pará não devia ter a desigualdade socioeconômica existente em seu território.

Qual o impacto das mudanças demográficas terá nas eleições 2024, na escolha dos prefeitos e vereadores no estado do Pará, a partir desse novo momento com a população de mulheres sendo maioria, predomínio da população adulta, mais envelhecida? é tão importante quanto, sendo a população urbana superior a 70%?

Ocorrerá mudança nas pautas de políticas públicas? As mulheres irão transformar sua maioria, inclusive como eleitora para definir suas demandas e propostas, e serem protagonistas nas escolhas dos gestores públicos; as populações urbanas amazônica colocarão sua pauta no debate socioambiental internacional?

Para entendermos o impacto desse cenário tendo a maioria das mulheres predominando a população, buscamos identificar a participação delas no congresso nacional. Nas eleições de 2010 para a 2014 o crescimento das mulheres foi de 13,33%. Olhando, especificamente para o estado do Pará, na eleição de 2014, dos 17 deputados federais eleitos, três (3) foram mulheres.

Já na eleição de 2018, apenas uma mulher foi eleita. Por outro lado, na eleição de 2022, a participação das mulheres foi de 30%. Dos 17 deputados federais, foram eleitas cinco (5) mulheres.Vale salientar que uma delas, Alessandra Haber, foi a mais votada, somando
258.907 votos.

Analisando a série histórica das eleições municipais desde 2008, vamos verificar um avanço significativo da participação das mulheres como prefeitas no estado do Pará. Em 2008, foram eleitas 12 prefeitas, representando 8,3% do total dos 144 municípios paraenses.

Em 2012, o número de prefeitas subiu para 22, o que equivale a 15,3%. Já em 2016, houve uma pequena redução do número de eleitas, chegando a 21 prefeitas, representando, 14,6%.

Em 2020, houve um salto significativo, elevando-se o número de prefeitas para 29,
o que equivale a 20,1%. Para 2024, a articulação das mulheres está sendo intensa
para participar nas eleições de outubro próximo. Pelo levantamento do Instituto
Doxa, esse crescimento de prefeitas pode chegar a 30,0%. Como se percebe, o
impacto nas eleições municipais vai ser grandioso.

Será determinante, também, o efeito nas eleições municipais a concentração da
população nos núcleos urbanos, tendo em vista o fluxo maior de informações
geradas nas cidades.

A floresta amazônica está urbanizada, mais de 70% da população concentra-se em
núcleos urbanos. A População das maiores cidades da Amazônia Legal corresponde
a mais de 10 milhões de habitantes em núcleos urbanos. Quando observamos as
populações de países como a Noruega (5.295.619), Dinamarca (5.781.190) Suíça
(8.484.130), Suécia (10.120.242) constatamos que a Amazônia não é um vazio
demográfico. Ao contrário, alguns estados da Amazônia são maiores em população
que certos países desenvolvidos da Europa. Por exemplo, o estado do Pará que
tem 8.602.865 habitantes é maior que Noruega (5.295.619), Dinamarca
(5.781.190), Suíça (8.484.130).

Mas aqui não temos o básico que a urbanidade moderna oferece. A sustentabilidade na Amazônia exige cidades com água potável, esgoto sanitário, drenagem, pavimentação, gestão dos resíduos, mobilidade, gestão das suas bacias hidrográficas urbanas. Isso é o mínimo do básico. As crianças nas escolas sabendo ler, escrever, interpretar textos e a realidade, as operações da matemática, adição, subtração, divisão, multiplicação. O diálogo entre os conhecimentos tradicionais com os conhecimentos científicos, produzirá ciência e tecnologias que viabilizarão a proteção e o desenvolvimento da Amazônia. Essa é a sustentabilidade que atenderá as populações e a floresta Amazônica.

Esses dados estão para além de aspectos demográficos, estão relacionados a modelo de desenvolvimento. Destaca-se uma economia pujante, mas em 2025, queremos ser anfitrião de dezenas de milhares na COP 30, e todos devem admirar as maravilhas da floresta, mas precisam saber que vivemos em territórios de desigualdade e violações de direitos básicos, onde as mulheres são vítimas.

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