Um jovem de 19 anos, identificado como Gerson Machado e conhecido popularmente como “Vaqueirinho”, invadiu no último domingo (30) o Parque Arruda Câmara, em João Pessoa, após escalar um muro de 6 metros e descer por uma árvore até a jaula de uma leoa. O rapaz foi atacado pelo animal e não resistiu aos ferimentos.
O comportamento do jovem chamou atenção não só dos frequentadores do parque, que ficaram assustados com a cena, como também de internautas e especialistas, que passaram a questionar os motivos que o levaram a agir dessa forma.
Após a morte de Gerson, a conselheira tutelar Verônica Oliveira, que o acompanhou dos 10 aos 18 anos, se manifestou nas redes sociais. Ela relatou a trajetória de abandono, violações e sofrimento que o rapaz acumulava desde a infância. Segundo a conselheira, o próprio Gerson dizia que seu sonho era ir a um safári na África para cuidar de leões. Ela afirmou ainda que o jovem já havia invadido o aeroporto na tentativa de pegar um avião para realizar o sonho, mas foi impedido por seguranças que o viram pelas câmeras.
“Você só queria voltar a ser filho da sua mãe, que é esquizofrênica e não tinha condições de cuidado. Sua avó também tinha transtornos mentais. Mas a sociedade, sem conhecer sua história, preferiu te jogar na jaula dos leões”, desabafou Verônica.
A conselheira também divulgou um vídeo em suas redes sociais:
Gerson acumulava 16 passagens pela polícia. Na semana anterior à sua morte, ele havia sido preso por quebrar a janela de uma viatura, durante a entrevista, vaquerinho dizia que não conseguia emprego por não ter documentos e nem celular pra agendar a emissão e por isso, quebraria a viatura novamente. Na ocasião, o apresentador Paulo Neto, do programa Alô Paraíba, alertou publicamente sobre os riscos envolvendo o jovem. Em reportagem exibida em 25 de novembro, o apresentador destacou a necessidade de intervenção do poder público.
“Claramente é um jovem que precisa de ajuda psicológica. O Estado precisa tratar desse menino”, disse Neto. O alerta, no entanto, não foi suficiente para evitar a tragédia do último domingo, quando Gerson invadiu o recinto da leoa e acabou morto após o ataque.
Um trecho do programa Alô Paraíba, apresentado por Paulo Neto, ganhou repercussão após a morte de Gerson, conhecido como "vaqueirinho", jovem que invadiu o recinto de uma leoa no último domingo. pic.twitter.com/NubYHDDpiY
— Portal Estado do Pará Online (@Estadopaonline) December 1, 2025
Após a morte, novas imagens passaram a circular nas redes sociais, mostrando Vaqueirinho sozinho em diversos momentos, sempre após surtos ou pequenos delitos.
A jornalista Cláudia Carvalho publicou um vídeo comentando o caso e chamando atenção para a falta de assistência em saúde mental. Ela afirmou que a tragédia poderia ter sido evitada se o jovem tivesse recebido tratamento adequado.
“O caso do ‘Vaqueirinho’ é tão surreal que talvez o país inteiro passe a refletir sobre a qualidade — ou a falta de qualidade — da saúde mental que temos”, escreveu.
Nota da conselheira
“Gerson, meu menino sem juízo… Quantas vezes, na sala do Conselho Tutelar, você dizia que ia pegar um avião para ir a um safári na África cuidar de leões. Você ainda tentou. E eu agradeci a Deus quando o aeroporto me avisou que você tinha cortado a cerca e entrado no trem de pouso de um avião da Gol. Graças a Deus, observaram pelas câmeras que havia um adolescente ali antes que uma tragédia acontecesse.
Foram oito anos acompanhando você, lutando, brigando para garantir seus direitos. Quando entrou na minha sala pela primeira vez, tinha apenas 10 anos. Eu e a conselheira Patrícia Falcão recebemos você das mãos da PRF, encontrado sozinho na BR. Desde então, toda a Rede de Proteção me procurava sempre que algo acontecia com você.
Eu nunca consegui ver você como as redes sociais te pintavam. Eu conheci a criança que foi destituída do poder familiar da mãe, impedida de ser adotada como os outros quatro irmãos. Você só queria voltar a ser filho da sua mãe, que é esquizofrênica e não tinha condições de cuidado. Sua avó, também com transtornos mentais. Mas a sociedade, sem conhecer sua história, preferiu te jogar na jaula dos leões.”
Nota do Zoológico
“A Leona, a leoa do Parque Arruda Câmara, está bem e continuará recebendo todos os cuidados necessários. Após o incidente, ela foi imediatamente avaliada pela equipe técnica e segue em observação e acompanhamento contínuo, já que passou por um nível elevado de estresse.
É importante reforçar que, em nenhum momento, foi considerada a possibilidade de eutanásia. A Leona está saudável, não apresenta comportamento agressivo fora do contexto do ocorrido e não será sacrificada. O protocolo em situações como essa prevê exatamente o que está sendo feito: monitoramento, avaliação comportamental e cuidados especializados.
A equipe da Bica — médicos-veterinários, tratadores e técnicos — está dedicada integralmente ao bem-estar da Leona, garantindo que ela fique bem, se estabilize emocionalmente e retome sua rotina com segurança.”
Nota da Prefeitura de João Pessoa
“A Prefeitura de João Pessoa, por meio da Secretaria de Meio Ambiente (Semam), informa que, na manhã deste domingo (30), um homem ainda não identificado invadiu deliberadamente o recinto da leoa no Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica). De maneira rápida e surpreendente, ele escalou uma parede de mais de 6 metros, as grades de segurança, acessou uma das árvores e invadiu o recinto. Segundo a perícia da Polícia Civil, o homem agiu em possível ato de suicídio. Embora as equipes de segurança tenham tentado impedir a ação, o homem agiu de forma rápida no acesso ao recinto e veio a óbito em decorrência dos ferimentos provocados pelo animal.
Assim que a ocorrência foi constatada, o parque foi imediatamente fechado para os procedimentos de segurança e remoção do corpo. A Semam já iniciou a apuração das circunstâncias do fato e está colaborando com as autoridades competentes.
A Prefeitura se solidariza com a família da vítima e esclarece que, apesar de toda a segurança existente — que atende às normas técnicas —, o homem insistiu na invasão, culminando nesse episódio lamentável.”
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