Mineração expande riscos, provoca medo em aldeias e vira alvo de críticas na Aldeia COP - Estado do Pará Online

Mineração expande riscos, provoca medo em aldeias e vira alvo de críticas na Aldeia COP

Em meio à COP30, relatos de pressão territorial, insegurança e danos ambientais revelam um cenário mais amplo do que a disputa por grandes projetos

Divulgação / UFPA

A tensão em torno do avanço da mineração nos territórios indígenas ganhou novos contornos durante a plenária realizada na Escola de Aplicação da UFPA, espaço que tem reunido debates até 21 de novembro. O encontro marcou o lançamento do relatório “Minando Direitos: Impactos da Mineração sobre os Povos Indígenas”, documento apresentado pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e que aprofunda três casos emblemáticos de pressão minerária no Brasil.

A apresentação do estudo incluiu análises sobre a Volta Grande do Xingu, onde o projeto de ouro da Belo Sun já provoca mudanças mesmo sem operar. A pesquisadora Ana Carolina Alfinito descreveu um ambiente de insegurança crescente. “As pessoas sentem medo. É realmente um terror pensar que a vida vai ser virada de cabeça para baixo, de novo, depois de Belo Monte”, disse.

Ela pontuou que os grupos afetados não foram consultados, contrariando a Convenção 169 da OIT, e reforçou que ampliar a atividade minerária não pode ser entendido como caminho para uma transição energética justa.

Enquanto as análises avançavam sobre os dados do relatório, representantes do próprio MPI destacaram que os conflitos não se restringem a um único território. A secretária Ceiça Pitaguary citou o caso das terras Cinta Larga, lembrando que a exploração ilegal de diamantes perdura há décadas. “Todo mundo sabia o que estava acontecendo e não se fazia nada”, afirmou. Para ela, qualquer processo de escuta precisa evitar disputas internas e não pode ser realizado de forma superficial.

O impacto da mineração também apareceu no relato de Gabriel Mura, liderança do Lago do Soares (AM), que tratou do Projeto Potássio Autazes. Ele descreveu divisões entre comunidades e advertiu para o risco ambiental na área onde o empreendimento pretende se instalar. “Se Maceió afundou em terra firme por causa de perfurações, imagina na nossa região de várzea. São pilhas de sal que podem gerar três vezes mais rejeitos que Brumadinho”, alertou.

As discussões da plenária dialogaram com pesquisas acadêmicas que vêm demonstrando a profundidade dos danos ambientais associados à extração mineral, sobretudo na cadeia do ouro. A professora Gabriela Arrifano (PPG Farmabio/UFPA) explicou que o desmatamento provocado pela atividade desequilibra ecossistemas inteiros. “Os rios se tornam poluídos, com diferentes tipos de contaminantes, tornando a água imprópria para o consumo”, disse.

Ela relatou que a degradação obriga populações tradicionais a mudar hábitos essenciais, como caça e agricultura. Sobre o uso de mercúrio, reforçou que o metal percorre longas distâncias, chega até regiões polares e, nos rios, converte-se em metilmercúrio, a forma mais tóxica, que entra na cadeia alimentar.

Apesar dos impactos diretos, a pesquisadora avaliou que o tema ainda ocupa pouco espaço nas negociações climáticas. “É muito curioso que a mineração não apareça como ponto central na agenda da COP 30, porque mudança climática e mineração estão intimamente relacionadas”, afirmou. Segundo ela, tanto na atividade legal quanto na ilegal, há forte ligação com a emissão de CO₂ pela queima de combustíveis fósseis usados nos equipamentos.

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