Durante entrevista recente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “os usuários são responsáveis pelos traficantes que são vítimas dos usuários também. Você tem uma troca de gente que vende porque tem gente que compra, de gente que compra porque tem gente que vende”. A declaração, feita ao comentar o combate internacional às drogas, repercutiu fortemente e foi interpretada por opositores e parte da imprensa como se o presidente estivesse relativizando o crime e “vitimizando traficantes”.
Na verdade, o comentário de Lula se insere em um raciocínio mais amplo sobre a corresponsabilidade global no enfrentamento ao narcotráfico. O presidente buscava destacar que o consumo interno, sobretudo em grandes economias como os Estados Unidos, alimenta as redes criminosas que atuam na produção e no transporte de drogas. Segundo ele, não é possível combater o tráfico de forma eficaz sem combinar ações repressivas com políticas de prevenção, educação e tratamento de dependentes.
Análise de Demétrio Magnoli
Em comentário na GloboNews, o cientista político Demétrio Magnoli explicou que “as declarações dele foram um tiro no pé”, mas ressaltou que é preciso compreender o sentido da fala. Magnoli afirmou que Lula se referia ao fato de que “os Estados Unidos formam um imenso mercado consumidor de drogas” e que, por isso, deveriam “combinar o combate ao narcotráfico no exterior com o combate ao consumo dentro dos Estados Unidos”. Ele reconheceu que o presidente “se expressou mal”, mas que a mensagem pretendida tratava de uma consequência geopolítica e não de defesa ao crime.
A polêmica, entretanto, foi amplificada por interpretações que distorceram o conteúdo da fala, reduzindo-a a um suposto gesto de empatia com traficantes. Essa manipulação discursiva, difundida por setores da extrema direita e reproduzida em manchetes, converteu uma discussão sobre as causas estruturais do narcotráfico em mais um episódio de disputa ideológica.
Ao simplificar o discurso presidencial, o debate público se afastou do ponto central: a necessidade de reconhecer que o tráfico é sustentado pela demanda, e que o combate efetivo às drogas exige corresponsabilidade dos países consumidores. No lugar da análise, prevaleceu o ruído, transformando uma reflexão sobre política internacional em combustível para a polarização doméstica.
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