Major dos Bombeiros estava de atestado médico durante festa em que companheira foi morta com a arma do oficial

O caso ocorreu dentro da casa de shows "Barka", localizada no bairro do Reduto, em Belém, onde, supostamente por acidente, a moça foi baleada pela arma do marido.

Mulher e major
Reprodução/Redes Sociais. Alessandra Araújo Portilho tinha 38 anos e deixou dois filhos autistas.

Uma mulher identificada como Alessandra Araújo Portilho, companheira do Major do Corpo de Bombeiros Militar do Pará, Raimundo Nonato Moura da Silva Filho (Major Moura), morreu após ser atingida por um disparo com a arma de fogo do homem na madrugada de 6 de abril, um sábado. O caso ocorreu dentro da casa de shows “Barka”, localizada no bairro do Reduto, em Belém, onde, supostamente por acidente, a moça foi baleada pela arma do marido. O militar, no entanto, não poderia estar no local, já que estava de atestado médico.

De acordo com informações presentes no Boletim de Ocorrência sobre o caso, a vítima, de 38 anos, foi atingida no abdômen pelo disparo. A situação teria ocorrido após ela tirar a pistola do marido de dentro da bolsa, quando os dois deixavam o bar e se dirigiam para casa. O caso foi registrado na Seccional do Comércio, em Belém. Na primeira versão, a arma foi disparada enquanto os dois estavam dentro do veículo do oficial.

Entretanto, vídeos obtidos com exclusividade pela reportagem mostram o Major Moura, que trabalha no CAT – Centro de Atividades Técnicas do CBMPA, dentro da casa noturna, auxiliando a companheira, que ainda estava no chão do local, ou seja, o caso teria ocorrido dentro do estabelecimento e não no veículo.

Após o incidente, familiares da vítima foram contatados por um grupo de majores do Corpo de Bombeiros, que não se identificaram, informando que o militar em questão estava de atestado médico no dia do ocorrido (de 5 a 7 de abril), conforme uma escala obtida pela reportagem. Confira. Os familiares entraram com denúncia no Ministério Público do Estado do Pará (MPPA).

“Em virtude da falta de imparcialidade em questões disciplinares internas e estão preocupados com o futuro da corporação, na oportunidade informaram que o Major Moura (Raimundo Nonato Moura da Silva Filho), lotado no CAT – Centro de Atividades Técnicas do CBMPA, apresentou médico junto aatestado o departamento responsável para se ausentar do trabalho no período de 5 a 7/4/2024”, diz o documento do MPPA obtido com exclusividade pelo Portal Estado do Pará Online.

Os bombeiros informaram que até o presente momento, nenhum Inquérito Policial Militar (IPM) por parte do Comando Geral do Corpo de Bombeiros do Estado do Pará.

“Tal fato, não teria acontecido se o militar estivesse, de fato, sob cuidados médicos já que ele apresentou um documento oficial de um profissional de medicina (atestado médico). Entretanto, o que é intrigante e causa espanto, já que o CBMPA tem como missão o zelo pela vida e como visão o respeito à hierarquia e disciplina, é que até o presente momento o Comando Geral do CBMPA não abriu nenhum procedimento interno para averiguar a conduta do militar, estando ele, ainda, ocupando cargo de confiança”, informa a denúnia ao MPPA.

O caso veio à tona, após, no último domingo ter sido comemorado o dia das mães e a vítima, Alessandra Portilho, de 38 anos, deixou dois filhos autistas.

Mãe da vítima não acredita em tiro acidental

A mãe de Alessandra, Tânia Araújo, contestou a narrativa sobre a morte da filha e as informações fornecidas pelos parentes do major do Corpo de Bombeiros, Raimundo Nonato Moura da Silva Filho, ex-marido da vítima. A ex-sogra do militar destacou inconsistências nos relatos transmitidos a ela sobre os eventos ocorridos no dia 6 de abril.

Em uma entrevista concedida ao repórter Wesley Costa, da RBATV, Tânia Araújo afirmou que a divulgação de um vídeo, gravado logo após o incidente em que Alessandra foi baleada por um suposto tiro acidental disparado pela arma do major, contradiz a versão fornecida pelos familiares do ex-genro à polícia.

Segundo ela, a mãe e a irmã do major mentiram ao não relatarem a verdade sobre a morte da mulher quando entraram em contato com ela no início daquela manhã de sábado. Além disso, Tânia alega que a então cunhada de Alessandra mentiu ao afirmar que não estava presente na festa no momento do incidente, uma afirmação desmentida pelo vídeo que a mostra próxima à vítima após o disparo.

Tânia também ressaltou que o militar era violento com Alessandra e frequentemente brigava com a moça.

Outra inconsistência apontada por Tânia é o fato de uma mulher se apresentar como irmã de Alessandra no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE) para acompanhá-la, quando, na verdade, essa mulher seria a cunhada, irmã do major. Alessandra era filha única.

Posicionamento do Corpo de Bombeiros e investigações

Enviamos um e-mail para o Corpo de Bombeiros solicitando explicações por não ter sido aberto um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar a conduta do oficial. Aguardamos um posicionamento. O caso está em investigação na Polícia Civil, através da Divisão de Homicídios.

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