Através da rede social X (ex-Twitter), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu com firmeza à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou nesta quarta-feira (9) uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados, com início previsto para 1º de agosto. Em resposta, o governo brasileiro anunciou que não aceitará a medida de forma passiva e já prepara uma retaliação proporcional com base na Lei de Reciprocidade Econômica.
Em uma nota oficial, Lula afirmou que o Brasil é “um país soberano com instituições independentes” e rejeitou qualquer tentativa de tutela ou intimidação por parte de governos estrangeiros. A resposta contundente veio após Trump publicar uma carta aberta em sua rede Truth Social, acusando o Supremo Tribunal Federal (STF) de perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro e de supostas violações à liberdade de expressão de empresas americanas.
“O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência da Justiça brasileira e não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça externa”, diz o comunicado da Presidência da República.
Trump, em sua carta, afirmou que os EUA estariam sendo “prejudicados” por práticas comerciais brasileiras e por decisões do STF que teriam imposto “ordens de censura secretas e ilegais” a plataformas de mídia social norte-americanas. Ele classificou a atuação do tribunal como uma “ameaça direta aos interesses americanos” e anunciou a abertura de uma investigação formal contra o Brasil com base na Seção 301 da legislação comercial dos EUA – mecanismo usado em disputas como a travada contra a China nos anos anteriores.
Liberdade de expressão ou desinformação?
No centro do conflito está o debate sobre os limites da liberdade de expressão. Para o governo Lula, o Brasil “rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes e discursos contra os direitos humanos”, e reitera que qualquer empresa, nacional ou estrangeira, deve respeitar a legislação brasileira ao atuar no país.
“Liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas”, reforça o Planalto, em crítica velada às plataformas digitais frequentemente associadas à disseminação de fake news e ataques a instituições.
Comércio: quem deve a quem?
Trump também alegou que o Brasil impõe “barreiras injustas” ao comércio bilateral, o que estaria afetando empresas norte-americanas. O governo brasileiro rebateu com dados: segundo as próprias estatísticas oficiais dos EUA, o país registra superávit comercial com o Brasil da ordem de 410 bilhões de dólares nos últimos 15 anos – ou seja, é Washington que tem se beneficiado da relação comercial.
“É falsa a informação sobre o alegado déficit norte-americano”, afirma a nota brasileira, sugerindo que a decisão de Trump tem mais fundo político do que econômico.
Clima tenso às vésperas da COP30
O embate entre os dois presidentes ocorre num momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP30 em Belém, em novembro. A escalada diplomática pode afetar negociações ambientais e acordos multilaterais, especialmente considerando o histórico negacionista de Trump em temas climáticos.
Retaliação à vista
A equipe econômica brasileira já estuda contramedidas. Fontes do Itamaraty indicam que a retaliação pode incluir tarifas sobre produtos norte-americanos, restrições a investimentos e até mesmo ações junto à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Enquanto isso, o Planalto adota um tom de alerta, mas também de soberania: “A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo.”
Se Trump quis testar os limites da diplomacia com a caneta, Lula respondeu com o verbo: o Brasil, garantiu, não será dobrado. E agora, o xadrez geopolítico está armado.
Leia também:
Deixe um comentário