O geógrafo e lobista Gilberto Henrique Horta de Carvalho, preso pela Polícia Federal na última quarta-feira (17) durante a Operação Rejeito, é suspeito de integrar um esquema de corrupção e fraude em projetos de licenciamento de mineração em Minas Gerais. Segundo as investigações, ele atuava politicamente para barrar iniciativas legislativas voltadas à proteção da Serra do Curral, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Gilberto ganhou notoriedade no meio político em 2023, quando foi candidato à presidência do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) com o apoio de Jair Bolsonaro (PL) e do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).
Em um vídeo de campanha, Nikolas aparece ao lado de Gilberto afirmando que a eleição dele ajudaria a “desaparelhar” o sistema Crea-Confea, historicamente dominado, segundo o parlamentar, pela esquerda. O próprio candidato complementa: “Para a gente limpar o sistema dos engenheiros da esquerda, vote Gilberto Carvalho.”
Gilberto também registrou em suas redes sociais encontros com figuras políticas de destaque, entre eles o ex-presidente Bolsonaro, a quem chamou de esperança em “um futuro mais digno e próspero”.
Suspeitas da Polícia Federal
De acordo com relatório da PF, Gilberto exercia papel de articulador interinstitucional da organização criminosa, manipulando decisões administrativas e legislativas em favor do grupo.
Em mensagens interceptadas, ele teria se comprometido a “espionar” um grupo de trabalho que avaliava projetos de mineração na Serra do Curral e repassar informações ao empresário e ex-deputado João Alberto Lages, apontado como um dos líderes do esquema.
As investigações também indicam que Gilberto foi acionado para impedir a tramitação do Projeto de Lei 1449/2023, de autoria da deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), que propunha a criação de um parque de proteção ambiental na serra. O projeto acabou não avançando.
Em outro trecho citado pela PF, João Alberto teria cobrado diretamente de Gilberto a paralisação da proposta, o que teria ocorrido. Posteriormente, ambos marcaram um encontro para “tomar um café”, que, segundo os investigadores, teria servido de oportunidade para acerto de vantagens indevidas.
Relação com políticos
Além da campanha ao Crea-MG, Gilberto manteve proximidade com nomes da direita mineira e nacional. Bolsonaro chegou a recebê-lo em Brasília, gravando um vídeo em seu apoio. Já Nikolas aparece em registros ao lado do lobista durante a posse de Donald Trump, em janeiro de 2025, nos Estados Unidos.
Gilberto também atuou como assessor no gabinete do vereador de Belo Horizonte Uner Augusto (PL), aliado de Nikolas.
Procurado pela imprensa, Nikolas afirmou que Gilberto é apenas um “apoiador” e disse que não estava “nem sabendo” da prisão. Sobre o fato de um de seus advogados estar na defesa de Gilberto, o deputado minimizou:
“É o trabalho de advogado. Imagina ter só eu de cliente. Ele tem escritório de advocacia”, declarou.
A operação
Deflagrada pela Polícia Federal em Minas Gerais, a Operação Rejeito investiga fraudes, corrupção e tráfico de influência relacionados ao setor de mineração no estado. A Serra do Curral, considerada patrimônio histórico, cultural e ambiental, está no centro da disputa entre mineradoras, ambientalistas e parlamentares.
Leia também:
Deixe um comentário