Um dos temas mais esperados da COP30, a Meta Global de Adaptação (GGA), virou ponto de tensão nas negociações em Belém. O impasse foi criado após o Grupo Africano, que reúne 54 países, propor o adiamento da decisão final para 2027, medida que poderia atrasar a consolidação de um dos compromissos centrais do Acordo de Paris.
A proposta, apresentada durante as rodadas técnicas, preocupa delegações e observadores que temem ver paralisado um debate iniciado há quase uma década. A meta, definida em 2015, busca fortalecer a capacidade global de adaptação e resiliência diante dos impactos crescentes da crise climática.
Na prática, o desafio está em definir cerca de 100 indicadores globais que sirvam para medir o avanço real das políticas de adaptação. Para a diplomacia brasileira, que preside a conferência, a decisão não pode ser adiada. “Este é o mandato para este ano”, afirmou a embaixadora Liliam Chagas, diretora do Departamento de Clima do Itamaraty. Segundo ela, a conclusão desse processo é essencial para demonstrar que o sistema multilateral continua ativo e eficaz.
“Agora estamos na fase de conclusão desse trabalho técnico muito importante – o momento em que as delegações têm essas duas semanas para finalizar a seleção dos indicadores e apresentá-los ao processo. Há 145 itens de agenda distribuídos em cinco diferentes instâncias”, explicou a diplomata, durante coletiva em Belém.
A expectativa é de que as negociações avancem nos próximos dias, com a presidência conduzindo consultas bilaterais entre os países. O objetivo é evitar o prolongamento das discussões e assegurar que a COP30 encerre com um texto consensual.
Fora das salas de reunião, a sociedade civil acompanha o debate com atenção. “Agir pela adaptação significa poupar vidas e recursos”, destaca Flávia Martinelli, do WWF-Brasil. Para ela, postergar o acordo seria um retrocesso: “Adiar a decisão para outro ano só vai sinalizar que os países não consideram adaptação tão importante quanto dizem nos discursos”.
A conferência também chamou atenção pela agilidade inicial: diferentemente de edições anteriores, a pauta de negociações foi aprovada já no primeiro dia, com apenas quatro pontos destacados para consulta adicional. Entre eles, estão temas sensíveis como o financiamento climático e as metas de mitigação de emissões.
Segundo Túlio Andrade, diretor de estratégia e alinhamento da COP30, as sessões têm sido longas e produtivas. “A primeira sessão deveria durar duas horas, mas durou quatro. A segunda, três. Isso mostra que as partes estão dialogando e se complementando”, disse.
Com reuniões diárias e consultas paralelas, o clima é de expectativa. O governo brasileiro aposta que, até o fim da conferência, será possível entregar um acordo concreto sobre adaptação, consolidando a COP30 como um marco de avanços e não de adiamentos.










Deixe um comentário