Por Válber de Almeida Pires*
A postura emotiva adotada por Helder Barbalho em relação ao Dr. Daniel, prefeito de Ananindeua que em abril selou a ruptura com seu grupo político, expôs a fragilidade da imagem de Estadista que ele tentou projetar desde seu primeiro mandato de governador e ruiu a barreira de encantos que ocultavam uma dura realidade: o Helder que todos imaginávamos, grande líder político, gestor eficiente e vanguardista, com visão de futuro, empático, diplomático e com grandes habilidades de governança pode ser o Dr. Daniel. A briga entre os dois é importante ante um estado que carece, urgentemente, de novas lideranças política e, principalmente, de lideranças políticas saudáveis.
Desde que a transferência de Dr. Daniel do MDB para o PSB foi confirmada no início de abril deste ano, o Governador Helder Barbalho se envolveu em uma série de futricas políticas tão indignas quanto vergonhosas: demitiu, de uma só vez -num ato claramente impulsivo, pois sem medir as consequências para a gestão pública- dezenas de funcionários do grupo político do ex-correligionário; retomou maquinários usados em serviços para a comunidade que o estado cedia à prefeitura de Ananindeua; fez um show para promover seu candidato à prefeito neste município sem pedir autorização à prefeitura; tem usado o jornal da família para fazer denúncias para lá de embaraçosas contra a gestão ananindeuense; deixou de participar da XVI FIPA, ao que tudo indica, para não esbarrar com o vice-presidente Geraldo Alckmin e o Dr. Daniel… A lista é grande e há indícios de instrumentalização do próprio judiciário para açodar essa briga. O estadista virou tiranete de província?
Aquele Helder que se trajou de grande líder político, diplomático, grande articulador, farol de novas e inovadoras ideias começou a desmoronar. A equipe de marketing do Dr. Daniel, que é médico, foi cirúrgica ao defender o prefeito da poderosa máquina de propaganda do governador: o medo do governador é que a gestão de Ananindeua promove obras que tem início, meio e fim.
De fato, Dr. Daniel conseguiu, em menos de quatro anos de gestão, iniciar e concluir diversas obras que mudaram a face deprimida e decadente da segunda maior cidade do Pará. Obras de pavimentação, recuperação asfáltica, infraestrutura de transporte, saneamento, lazer e cultura, em áreas centrais e periféricas da cidade, que melhoraram visivelmente o bem-estar e levantaram a autoestima da população. Todas, obras com início, meio e fim.
Enquanto isso, o BRT que visa melhorar o trânsito entre as cidades de Marituba, Ananindeua e Belém, na RMB, repete a mesma história de ineficiência do BRT construído pela prefeitura de Belém entre o distrito de Icoaraci e o bairro de São Brás, na capital do estado: quase uma década de obras que caminham a passos muito lentos, congestionamentos eternos, transtornos diversos para a população, estresse, desleixo das autoridades, destruição da autoestima da população.
No interior do estado, as estradas estão deterioradas, quando o buraco não é para baixo é transformado, pelas infinitas operações tapa-buraco, em morros ou lombadas que causam transtornos e inseguranças para os condutores tanto quanto os buracos. Outrossim, além da PA-370, Trans-Uruará, que foi inaugurada pela metade e pela metade se encontra, da PA-322 e da PA-256, desconheço rodovias estaduais de grande relevância que tenham sido asfaltadas pelo atual governo e estejam em boas condições de tráfego.
É possível que o governador apresente bons resultados na área educacional, por ter colocado um experiente gestor para comandar a SEDUC. Mesmo aí, é preciso desocultar a profunda precarização do trabalho que está acometendo os profissionais de educação devido à intensificação de demandas que, para serem cumpridas, extrapolam a carga horária dos profissionais.
Na área de segurança, o governo equipou bem as polícias e tem bons números para mostrar na redução de crimes letais, mas na contagem geral a redução da criminalidade foi de meros 1,5%.
Na área de meio ambiente, outro carro-chefe do governador, a ineficiência é ainda maior: as secretarias e órgãos da gestão estadual carecem de equipes técnicas para captar recursos, a maior parte dos inúmeros projetos e programas que secretarias e órgãos apresentam não possuem efetividade, são apenas peças de propaganda, o desmatamento não retrocedeu, as áreas degradadas não estão sendo recuperadas etc. etc. etc…
Mais, órgãos como Secretaria de Meio Ambiente, de Igualdade Racial e Direitos Humanos, de Povos Indígenas, de Cidades, de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca, a EMATER, entre outros órgãos importantes para operacionalizar uma política ambiental efetiva e eficiente, estão enclausurados, operam no limite dos recursos infraestruturais, financeiros e humanos, por isso, são incapazes de implantar seus projetos e programas e, assim, servem apenas para alimentar ilusões fabricadas pela máquina de propaganda.
Tenho sustentado que, para a gestão de vanguarda que o Helder se propôs a fazer em seus governos, ele precisaria ter criado uma Secretaria de Governança, a fim de articular os diversos órgãos estaduais em torno de um norte a ser alcançado, direcionar recursos, formar equipes de alta eficiência, priorizar áreas estratégicas ou críticas, definir e perseguir indicadores.
Na área de meio ambiente, um modelo de governança é não somente possível como uma demanda dos diversos atores sociais e econômicos. Ando por todo este estado e já presenciei muitas iniciativas informais de governança, embriões de modelos cooperativos, colaboracionistas e complementares entre empresários, poder público e sociedade civil. Logo, é preciso apenas um poder maior para articular, melhorar e fortalecer essa realidade no estado.
No entanto, o Governo do Pará parece ter se fechado totalmente para estas experiências de gestão inovadoras, de vanguarda e características do modo de governar de um verdadeiro estadista dos tempos atuais, um estadista que o Pará e o Brasil precisam e que Helder poderia ter se candidatado com seus 8 anos de mandato.
No entanto, essa oportunidade está se perdendo e o fim do governo Helder à frente do estado parece que vai ser melancólico. Nesse sentido, o comportamento indigno para um político que almeja alcançar o status de um estadista como o que seu governo tem demonstrado em relação ao Dr. Daniel parece uma perda de rumo total.
O certo é que Helder tem muito discurso a oferecer, mas muito pouco de prático a mostrar em termos de uma gestão eficiente e de vanguarda, tal como seu discurso e sua propaganda querem fazer crer. Por isso, quando posto diante do espelho do Dr. Daniel, o governador surtou: “como assim existe alguém mais belo do que eu?”.
Dr. Daniel apresentou, em nível municipal, uma gestão eficiente e de vanguarda que o governador não conseguiu imprimir à frente do estado. Ele pode despontar como uma liderança estadual e isso é positivo para a democracia paraense, cujo poder está muito concentrado nas mãos da família barbalho. Mais ainda, ele é bem vindo ante o avanço de políticos de extrema-direita que se apresentam com todos os traços de pessoas com profundos transtornos de personalidade.
Em síntese: Dr. Daniel pode se tornar aquilo que Helder poderia ter sido, e isso é bom para nossa política.
* Válber de Almeida Pires possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará; Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA); Doutorado em Sociologia, pelo PPGCS/UFPa; e, Pós-Doutorado em Socioeconomia e Sustentabilidade.
Leia também:
Há tempos não leio algo tão convicto. Diante de tantas verdades e detalhes descritos, Helder ainda tem chances de rever seus conceitos.
Sem contar, o Teatro Magnífico o centro de gastronomia ,orlá do rio Maguari e outros obras pensadas para a população da Região Metropolitana!