Governo do Rio apresenta ao STF plano para recuperar territórios dominados pelo crime organizado - Estado do Pará Online

Governo do Rio apresenta ao STF plano para recuperar territórios dominados pelo crime organizado

Projeto prevê cinco fases integradas, com ações de segurança, políticas sociais e desenvolvimento econômico; implementação deve começar após o carnaval de 2026.

Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O governo do Rio de Janeiro apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (22), um plano estratégico para a recuperação de territórios atualmente sob influência do crime organizado no estado. As medidas devem ser executadas em cinco etapas integradas e têm início previsto para depois do carnaval de 2026, começando por comunidades da zona sudoeste da capital fluminense.

O documento atende a uma das exigências da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, que cobra do poder público ações para reduzir violações de direitos e o elevado número de mortes em operações policiais nas favelas do Rio.

A zona sudoeste foi escolhida para o início do projeto por concentrar áreas dominadas por milícias e por facções como o Terceiro Comando Puro e o Comando Vermelho. O plano piloto deve começar pelas comunidades de Rio das Pedras, considerada o berço das milícias, além da Muzema e da Gardênia Azul. Segundo o governo, cerca de 70 mil pessoas vivem em áreas marcadas por alto grau de vulnerabilidade social, degradação ambiental e disputas armadas por território.

Batizado de Plano Estratégico de Reocupação Territorial, o projeto começa com uma fase voltada à segurança pública e à justiça, que inclui mapeamento detalhado das áreas e intervenção direta, com presença ostensiva das forças de segurança por período determinado. Caso necessário, o plano prevê apoio de forças federais e das Forças Armadas, além de ações de monitoramento contínuo. Nesta etapa, também estão previstas atuações do Ministério Público e da Defensoria Pública.

Cinco Fases

Além do enfrentamento direto ao crime, a primeira fase busca desmontar o controle exercido por facções sobre serviços básicos, como a venda de gás, gelo e internet, atividades frequentemente usadas para lavagem de dinheiro.

As segunda e terceira fases concentram-se no desenvolvimento social e urbano, com foco no “resgate da cidadania” e na ampliação do acesso a direitos. Entre as ações previstas estão mutirões de assistência social, reformas de escolas, implantação do ensino em tempo integral, oferta de cursos técnicos, atividades esportivas e culturais, além de obras de saneamento, iluminação pública, limpeza urbana, regularização fundiária e melhorias na mobilidade.

A quarta fase prevê incentivo ao desenvolvimento econômico local, com apoio a microempresas, cooperativas e estímulo ao turismo comunitário. Já a quinta etapa é voltada à sustentabilidade do projeto, com articulação entre diferentes esferas de governo e a sociedade civil para monitoramento permanente das ações.

Em nota, o governador Cláudio Castro afirmou que o conceito de reocupação vai além da presença policial. “Não se trata apenas da volta da polícia, mas da volta do Estado. O foco é a permanência e a transformação da realidade local, por meio da integração entre segurança e serviços sociais, conforme as diretrizes do STF e os anseios da população”, declarou.

Participação dos moradores

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, cerca de 400 moradores de Rio das Pedras, Muzema e Gardênia Azul foram ouvidos durante a elaboração do plano. Entre os principais problemas apontados estão a precariedade da infraestrutura e das condições de habitação. A participação da população está prevista desde a primeira fase, por meio de conselhos locais e reuniões periódicas com o poder público.

A etapa final do projeto inclui ainda a criação de uma plataforma digital de transparência, com indicadores das ações e observatórios de violência.

Com cerca de 300 páginas, o documento afirma que o plano não segue modelos anteriores adotados no Rio, como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), avaliadas como insuficientes por não integrarem de forma consistente os serviços públicos. O governo diz ter se inspirado na experiência de Medellín, na Colômbia, que conseguiu reduzir drasticamente os índices de violência a partir da continuidade de políticas públicas integradas.

De acordo com o diagnóstico apresentado ao STF, entre 2007 e 2024 houve expansão significativa da influência de grupos armados na região metropolitana do Rio. Atualmente, cerca de um terço da população do estado estaria submetida a algum tipo de controle do crime organizado.

“O objetivo central é substituir a economia do crime por um ecossistema de oportunidades lícitas, gerando emprego, renda e empreendedorismo”, destaca o documento encaminhado ao Supremo.

Leia também: