Gaza: antes, uma cidade vibrante, mesmo sufocada pelo bloqueio, limites e ataques - Estado do Pará Online

Gaza: antes, uma cidade vibrante, mesmo sufocada pelo bloqueio, limites e ataques

Antes de ser praticamente destruída, famélica e agonizate, como está agora, Gaza já sofria por limites impostos - pelo bloqueio econômico dos governos e exércitos de seus invasores e inimigos, em Israel e Egito - mas sua população mantinha uma resistência e resiliência impressionante, em meio à tantas adversidades.

Antes de se tornar sinônimo de destruição, dor e manchetes sobre bombardeios, a Faixa de Gaza era também uma cidade viva, pulsante e cheia de contrastes. O território de 365 km², onde viviam cerca de 2 milhões de pessoas, era um lugar em que a rotina insistia em existir apesar do bloqueio imposto por Israel e Egito desde 2007.

A vida que resistia

As ruas de Gaza fervilhavam de crianças indo à escola, vendedores ambulantes oferecendo frutas frescas e carros velhos disputando espaço com motocicletas. Cafeterias no centro urbano atraíam jovens conectados às redes sociais, enquanto famílias buscavam um pouco de lazer nas praias do Mediterrâneo — o mar que, embora presente e abundante, era em grande parte impróprio para banho devido ao esgoto despejado sem tratamento adequado.

Prédios residenciais devastados em Khan Younis – AFP

Apesar das restrições severas à entrada de bens e à circulação de pessoas, a cidade mantinha um comércio ativo. Mercados tradicionais, como o de Al-Zawiya, ofereciam especiarias, roupas e utensílios domésticos. Para muitos, a troca e o improviso eram a chave da sobrevivência: carros desmontados viravam oficinas improvisadas, e pequenos geradores garantiam luz em meio às quedas constantes de energia.

Educação e juventude: esperança teimosa

O bloqueio, as ofensivas militares anteriores e o alto índice de desemprego — que girava em torno de 50% entre os jovens — compunham uma realidade dura. Ainda assim, havia um esforço diário para manter uma “normalidade possível”. Casamentos movimentavam salões de festas, cafeterias lotavam durante a Copa do Mundo de 2018 e restaurantes serviam pratos típicos como o musakhan e o falafel, em meio às crises de abastecimento.

Quase metade da população tinha menos de 18 anos. Escolas da UNRWA (Agência da ONU para Refugiados Palestinos) chegavam a funcionar em turnos duplos ou triplos para atender à demanda. Universidades locais, como a Universidade Islâmica de Gaza, formavam engenheiros, médicos e jornalistas, ainda que muitos não tivessem a chance de exercer suas profissões fora dali.

“Aqui sonhamos alto, mesmo quando o mundo quer nos reduzir”, contou Ahmed, estudante de engenharia que buscava criar uma startup de tecnologia com internet limitada e energia instável.

Mesmo diante das limitações, a juventude de Gaza era notável pela criatividade: bandas de rap em árabe denunciavam o cotidiano de bloqueio; artistas plásticos pintavam murais coloridos nos escombros de antigas ofensivas; e grupos de tecnologia tentavam empreender startups com acesso limitado à internet.

Entre o cotidiano e a tensão

Mas a sombra da violência nunca estava distante. A cada sobrevoo de aviões militares ou movimento no posto de fronteira de Erez, crescia a incerteza sobre o amanhã. Gaza vivia como uma cidade sitiada, onde a rotina era atravessada por um medo constante — mas também por uma impressionante capacidade de resistência cultural e social.

Gaza antes da guerra: entre a resistência e a rotina possível

Antes dos ataques do exército israelense, em 2022, Gaza já era um território comprimido entre esperança e frustração. Uma cidade com uma vida comunitária rica, cheia de crianças, mercados barulhentos e praias que davam respiro à população. Mas também uma cidade onde a normalidade era sempre provisória, como se estivesse suspensa no ar, à espera da próxima explosão.

Uma cidade à beira-mar

Nas tardes de calor, famílias inteiras caminhavam pelo calçadão, crianças empinavam pipas improvisadas e jovens lotavam cafeterias com xícaras de café forte e celulares conectados às redes sociais. No Mercado Al-Zawiya, o mais tradicional de Gaza, os corredores estreitos misturavam o cheiro de especiarias com o barulho de vendedores oferecendo frutas, roupas e utensílios.

“Queremos viver como qualquer jovem no mundo, estudar, trabalhar, ter futuro”, dizia Lina, estudante de jornalismo de 19 anos. Sua frase sintetizava o espírito de milhares de jovens que, apesar das restrições, mantinham viva a esperança de seguir em frente.

O peso do bloqueio

Desde 2007, Israel e Egito impuseram um bloqueio terrestre, marítimo e aéreo que limitava a entrada de alimentos, medicamentos, combustível e materiais de construção. O resultado era um cotidiano marcado pela escassez.

 Reuters//Amir Cohen/Proibida reprodução

Com 2 milhões de habitantes em apenas 365 km², Gaza era uma das áreas mais densamente povoadas do mundo. Quase metade da população tinha menos de 18 anos, mas o desemprego juvenil superava 50%. Hospitais sofriam colapsos frequentes, escolas funcionavam em turnos duplos ou triplos, e os apagões de energia eram parte da rotina diária.

Normalidade sempre interrompida

Antes da ofensiva de 2022, Gaza já era marcada por esse paradoxo: uma cidade que tentava preservar a normalidade em meio ao cerco. Havia música, festas e cafés cheios durante a Copa do Mundo, mas também filas por combustível, praias poluídas por esgoto e o medo constante de um novo ataque.

Gaza era, em essência, um retrato da resiliência. Um lugar onde a vida florescia apesar de tudo — mas onde essa mesma vida podia ser interrompida a qualquer momento pela sombra da guerra.

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