Quantum de Alcateia, um dos garanhões mais premiados e valiosos do Brasil, morreu no último dia 25 em Atalaia, Alagoas, com suspeita de intoxicação alimentar. Avaliado em cerca de R$ 12 milhões, o cavalo da raça Mangalarga Marchador era considerado uma das grandes promessas da atualidade por sua genética e desempenho em torneios de marcha.
O animal estava no haras Nova Alcateia quando começou a apresentar sintomas graves. Apesar dos esforços da equipe veterinária, Quantum não resistiu. Ele completaria sete anos em quatro meses.
A morte do cavalo ocorre em meio à investigação do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) sobre possíveis casos de rações contaminadas. Segundo nota divulgada pelo haras, 69 cavalos já morreram na propriedade após consumirem rações produzidas pela empresa Nutratta Nutrição Animal. Laudos preliminares de laboratórios oficiais teriam confirmado a presença de uma substância altamente tóxica para equinos e outras espécies.
Veja a nota do Criatório Nova Alcatéia
Amigos do Marchador,
Acreditamos que todos estão acompanhando a verdadeira tragédia que vive a equinocultura nacional e, em particular, o Haras Nova Alcateia,
Em 50 anos de criação, nunca passamos por momentos tão dificeis. Desde os primeiros indícios de que nossos animais estavam sendo intoxicados pela contaminação da ração produzida pela empresa NUTRATTA NUTRIÇÃO ANIMAL LTDA., todas as medidas sanitárias e veterinárias foram e estão sendo tomadas no sentido de minorar as perdas, inclusive com a imediata suspensão do consumo da referida ração. Ocorre que a intoxicação derivada de seu consumo é tão violenta e devastadora que, apresentados os sintomas,tentar sanar suas consequências fatais não vem tendo efeito prático.
Os laudos preliminares dos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária realizados em amostras da ração consumida pelos animais do Haras Nova Alcatéia demonstraram a presença de ALCALOIDES PIRROZILIDÍNICOS (MONOCROTALINA) em concentrações capazes de causar doença e mortes em equídeos e outras espécies.
Até a presente data, 07 de julho de 2025, vieram a óbito 69 (sessenta e nove) animais do Haras Nova Alcatéia, todos, sem exceção, apresentando quadros clinicos idênticos e característicos da intoxicação pelo consumo da substância ALCALOIDES PIRROZILIDÍNICOS (MONOCROTALINA) conforme literatura veterinária.
Informamos também que todo esse processo vem sendo acompanhado de perto pelo MAPA, que esteve presente no Haras Nova Alcateia entre os dias 09 e 12 de junho passados, coletando informações e amostras do produto contaminado e dos animais que vieram a óbito, incluindo realizações de necropsias.
Infelizmente não teremos nossos animais de volta e muito menos esqueceremos os momentos de dor pelos quais estamos passando. No entanto, apesar das incomensuráveis perdas, todas as medidas cabiveis estão sendo tomadas no sentido de que, minimamente, os enormes prejuízos, incluindo de sócios, sejam reparados e que os causadores sejam responsabilizados para que episódios como este não mais se repitam.
Por mim e especialmente, agradecemos penhoradamente as diversas manifestações de solidariedade e carinho de todos os amigos e companheiros, na certeza de que sairemos ainda mais fortalecidos deste processo.
Quantum era conhecido por sua pelagem alazã e linhagem genética premiada. Além de múltiplos títulos, como campeão brasileiro e campeão nacional, ele vinha se destacando na reprodução, com uma produção considerada “extraordinária” por especialistas.
“O Quantum era o cavalo mais espetacular da raça. O que mais prometia. Já tinha sido campeão, participava de provas em alto nível. A produção dele era extraordinária. Os filhos dele são extraordinários também. Era uma das maiores promessas do Mangalarga Marchador”, afirmou Luciano Conceição, um dos proprietários do animal.
Quantum também representava um modelo de negócio comum no mercado de cavalos de elite: era compartilhado por um consórcio de investidores, que dividiam os custos com criação, competições e lucravam com coberturas e venda de filhotes.
A morte do garanhão causou grande comoção entre criadores e investidores da raça. O caso segue sob investigação pelas autoridades sanitárias e pode ter desdobramentos jurídicos nos próximos meses.
Mapa confirma 222 mortes de cavalos por ração contaminada da Nutratta e investiga novos casos
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) divulgou na manhã da última quinta-feira (3) um balanço atualizado sobre as mortes de cavalos após o consumo de rações fabricadas pela empresa Nutratta Nutrição Animal. Até o momento, 222 equinos morreram em decorrência da possível contaminação.
As mortes foram registradas nos estados de São Paulo (83 casos), Rio de Janeiro (69), Alagoas (65), Goiás (4) e Minas Gerais (1). Entre os casos em São Paulo, destaca-se um haras localizado em Indaiatuba, que contabilizou nove óbitos entre os meses de abril e maio. Outros 120 cavalos do mesmo local apresentaram sintomas como desânimo e alterações hepáticas, necessitando de tratamento veterinário intensivo.
Além dos óbitos confirmados, o ministério também informou que investiga denúncias relacionadas à morte de outros 195 equinos em diferentes localidades do país. Entre os novos focos de apuração estão:
Sudoeste da Bahia: 40 casos
Goiânia (GO): 70 casos
Jarinu (SP): 34 casos
Santo Antônio do Pinhal (SP): 10 casos
Uberlândia (MG): 18 casos
Guaranésia (MG): 8 casos
Jequeri (MG): 8 casos
Mariana (MG): 7 casos
Apesar do avanço nas investigações, o Mapa alertou que parte dessas ocorrências ainda não foi formalizada por meio da Ouvidoria oficial do ministério, o que dificulta o andamento das apurações técnicas. As ações de campo incluem necropsias, coletas de amostras e visitas técnicas às propriedades afetadas.
Empresa sob investigação
A Nutratta Nutrição Animal está oficialmente sob investigação, e a comercialização de seus produtos segue suspensa por apresentar risco à saúde animal. O Ministério da Agricultura identificou uma série de falhas sistêmicas na fábrica da empresa durante as inspeções: Falta de separação adequada de ingredientes nos silos, uso de resíduo de soja não aprovado, irregularidades nos registros de produção e ausência de rastreabilidade dos lotes.
De acordo com o Mapa, essas deficiências estruturais tornam tecnicamente impossível garantir a segurança dos produtos por espécie ou lote, o que reforça a gravidade da situação.
Ainda segundo o órgão, já é possível presumir uma relação direta entre o consumo das rações e os casos de adoecimento e morte dos animais, mesmo que alguns resultados laboratoriais ainda estejam em andamento. A suspensão dos produtos da Nutratta poderá ser reavaliada após a conclusão dos laudos finais.
Casos de cavalos intoxicados podem chegar a 1.400
Enquanto o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) investiga a morte de 222 cavalos em diferentes estados brasileiros, com suspeita de ligação ao consumo de rações da empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda, um levantamento independente aponta que a dimensão do problema pode ser ainda maior.
De acordo com dados compilados pela advogada Alessandra Agarussi, de São Paulo, o número de equinos intoxicados pode ultrapassar 1.400 animais. O levantamento, feito com base em relatos de criadores de todo o país, indica que pelo menos 729 cavalos morreram, 461 estão em tratamento e 225 seguem em observação clínica.
Alessandra, que também é tutora de um cavalo afetado, decidiu reunir outras vítimas no grupo de WhatsApp “Vítimas do Caso Nutratta”, que hoje conta com 428 membros ativos. A mobilização se estende às redes sociais, onde o perfil criado por ela já ultrapassa 600 seguidores, servindo como espaço de denúncia, troca de informações e apoio entre os criadores afetados.
Segundo a advogada, o grupo tem auxiliado na organização de documentos, relatos técnicos e provas que poderão ser utilizados em ações judiciais e civis coletivas contra a empresa. “O objetivo é dar visibilidade à gravidade do que está acontecendo, unificar os relatos e cobrar providências”, afirmou.
Nutratta lamenta mortes e aguarda conclusão de análises oficiais, mas não se pronuncia novamente
Em nota divulgada no início de junho em seu site oficial, a empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda. lamentou as mortes de cavalos supostamente ligadas ao consumo de suas rações e reconheceu a interdição de suas atividades determinada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A medida foi aplicada por meio de um termo de suspensão cautelar de fabricação, como parte das ações de fiscalização em andamento.
Na ocasião, a empresa afirmou que aguarda os resultados das análises conduzidas por laboratórios oficiais, destacando que, “com base nas amostras sob responsabilidade dos laboratórios oficiais, será possível alcançar, em breve, uma conclusão clara e embasada”.
Desde então, a Nutratta não voltou a se manifestar publicamente sobre o caso. Procurada novamente pela reportagem, a empresa não respondeu aos contatos, e nenhum novo posicionamento oficial foi emitido.
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Com informações: Veja, Globo Rural, Agro Estadão e G1
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