Após 46 anos longe da escola, Walmerinston Paixão Corrêa encontrou na Educação de Jovens e Adultos (EJA) a oportunidade de mudar sua trajetória. Antes vivendo em situação de vulnerabilidade nas ruas de Belém, ele retomou os estudos por meio da rede estadual de ensino e, em 2025, conquistou uma vaga na Universidade Federal do Pará (UFPA) no curso de Letras. Aos 64 anos, seu maior sonho é se tornar professor e escrever um livro.
Educação como ferramenta de transformação
Walmerinston iniciou sua retomada escolar na Escola Estadual Gregório de Almeida Brito, em Ananindeua, e concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Luiz Nunes Direito. O retorno à sala de aula foi um desafio, mas ele persistiu.
“Passei 46 anos fora da escola e senti os impactos disso. Sempre fiz pequenos trabalhos, mas as pessoas me viam de forma errada. A escola foi onde meu horizonte começou a se abrir novamente. No início, senti vergonha por estar ao lado de jovens atualizados, e tive dificuldades para assimilar os conteúdos. Nem esperava ser aprovado na universidade”, contou.

Superação e resiliência
Durante os anos em situação de rua, Walmerinston enfrentou dificuldades e preconceitos. “Decidi mudar por conta das humilhações diárias. Quando eu dava uma opinião, ouvia coisas como ‘o que tu sabes, se nem estudas?’. Isso me machucava. Então comecei a recolher livros do lixo e a estudar sozinho. Isso foi essencial para minha aprovação.”
Para ele, a EJA foi um divisor de águas. “A escola é o lugar certo. Quem quer mudar de vida precisa voltar a estudar. A EJA é um projeto sério, e mesmo não sendo fácil estudar depois de adulto, vale a pena. A educação abre portas.”
O impacto da EJA na vida dos alunos
Segundo a Coordenadoria de Educação de Jovens e Adultos (CEJA), Walmerinston é um exemplo da força transformadora da escola. “Ele passou 20 anos nas ruas, mas decidiu voltar a estudar. Pegava livros no lixão para se preparar e hoje está na universidade. A escola pública tem um papel social muito maior do que apenas ensinar: ela ressignifica vidas e cria oportunidades”, destacou a coordenadora da CEJA, Ana Cláudia Neves.
Ela reforça que o caso de Walmerinston reflete os esforços do Estado em garantir acesso à educação para todos. “Nosso objetivo é proporcionar um futuro mais digno. Ele é um orgulho para toda a rede pública de ensino do Pará.”
Novos desafios e um futuro promissor
Agora, Walmerinston se prepara para os primeiros dias de aula na UFPA. “Estou muito animado. Quero aproveitar cada oportunidade, aprender e mostrar que a sarjeta não é o fim. Quando me formar, terei uma profissão regulamentada. Quero ser professor, e isso mudará minha vida.”
Para ele, a educação é um verdadeiro resgate social. “Eu achava que mudanças assim só aconteciam com outras pessoas, mas aconteceu comigo. A escola transforma uma sociedade. Se não houver investimento na educação, não deixaremos um legado positivo para o futuro.”
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