A vida de Gerson Tadeu Teles, mais conhecido como Charles, se divide entre o passado de motosserra e o presente de coroas de açaizeiro. Morador da Ilha do Combu, em Belém, ele transformou a antiga relação de exploração com a floresta em um projeto de turismo sustentável que movimenta a economia local e preserva o meio ambiente.
Charles é o fundador do Ygara Artesanal, uma imersão na floresta amazônica que oferece trilhas, banhos de ervas medicinais e vivências com rituais ancestrais. O espaço, que recebe cerca de 50 visitantes por semana, combina turismo e produção artesanal, com doces e cosméticos feitos a partir de frutas nativas.
“Eu cresci aqui, vendo o quanto a floresta nos dá e o quanto ela precisa ser respeitada. Quando comecei a receber visitantes, entendi que poderia gerar renda sem destruir, mostrando para as pessoas a riqueza da natureza”, conta Charles, que hoje inspira outros moradores da ilha.

O projeto é fruto de uma rede de parcerias com agências de viagem, a Cooperativa de Transporte do Combu, e o Sebrae, que aposta no turismo de base comunitária como alternativa de desenvolvimento sustentável. Segundo o diretor-superintendente da instituição no Pará, Rubens Magno, o avanço é visível: “Em 2019, eram cerca de um ou dois empreendedores formalizados. Hoje, esse número é de quase 80”.
Nesta semana, o Sebrae e a Embratur inauguraram a Rota Combu, uma iniciativa que reúne 14 empreendimentos locais, de hospedagem e agroecologia a trilhas e experiências culturais. O objetivo é fortalecer a bioeconomia e preparar o destino para a COP30, que acontecerá em Belém em 2025.
“Hoje, já temos vários cursos para que os negócios trabalhem energias renováveis e consumam mais materiais recicláveis. Estamos usando menos plástico, mais vidro, mais papel e, dessa forma, temos conseguido trabalhar realmente essa consciência ecológica dos nossos empreendedores”, explica Rubens Magno.

Apesar do crescimento do turismo, Charles lembra que a comunidade ainda enfrenta dificuldades básicas. “Temos coleta de lixo, mas ela é precária. Falta orientação e estrutura”, lamenta.
A ausência de água potável também segue sendo um desafio diário. “Não temos água potável na ilha, que é uma briga antiga. Precisamos comprar os garrafões de água mineral. Nossa sorte é que tem uma pessoa que passa aqui de barco vendendo. Mas o preço é muito caro pra gente, porque fazemos tudo com água mineral. Queria que isso mudasse até a COP, mas a gente não sabe se vai realmente mudar”, desabafa o empreendedor.
Mesmo com os obstáculos, o Ygara Artesanal se tornou um símbolo de transformação. “Hoje, tenho orgulho de mostrar onde vivo. O turismo sustentável me fez entender que cuidar da floresta é também cuidar da nossa própria sobrevivência”, afirma Charles, com a serenidade de quem encontrou um novo propósito em meio à Amazônia.
Informações: Rafael Cardoso / Agência Brasil
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