Estudante de Marituba tira nota máxima na Olimpíada Brasileira de Matemática e faz história - Estado do Pará Online

Estudante de Marituba tira nota máxima na Olimpíada Brasileira de Matemática e faz história

Aos 16 anos, Sophia Pires alcançou a maior pontuação da Olimpíada Brasileira de Matemática para Escolas Públicas e se tornou referência nacional na área

Ary Brito

Sophia Pires, de 16 anos, moradora do bairro Pedreirinha, em Marituba, Região Metropolitana de Belém, alcançou um feito inédito na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Aluna da Escola Municipal Emília Clara, ela obteve nota máxima na prova discursiva do nível 3, voltado para estudantes do Ensino Médio.

A jovem marcou 120 de 120 pontos e se tornou a primeira brasileira a “fechar” a prova nesse nível. “Fui a primeira aluna do Brasil a fechar essa prova. E sendo mulher, é ainda mais simbólico. A matemática ainda é muito associada aos meninos”, disse Sophia. O feito a transformou na maior nota do país na edição mais recente da competição.

Desde cedo, ela demonstrava afinidade com a disciplina. “Eu amo matemática desde muito cedo. Com cinco anos, eu já dizia que era minha matéria favorita”, relembra. O interesse ganhou forma quando passou a assistir aos comerciais da OBMEP e, depois, ao participar do Programa de Iniciação Científica (PIC), mesmo sem ainda ter uma medalha.

No primeiro ano, conquistou bronze. “Usei o bronze como energia. No ano seguinte, fui ouro. E agora, fechei a prova. Acertei tudo”, declarou. Com dedicação e orientação dos professores, Sophia passou a se destacar nacionalmente e hoje participa de dois programas educacionais que marcam sua trajetória: o PIC e o Programa Olímpico de Matemática (POM).

O professor André Paixão, idealizador do POM e técnico pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de Marituba, afirma que Sophia é referência desde 2019. “Nós percebemos logo a facilidade dela. Foi medalha de bronze, depois ouro, e não parou mais. Hoje é destaque nacional, a maior nota do país. Ela foi inspiração para centenas de outros estudantes. Posso dizer que 99% dos alunos que estão hoje no projeto chegaram por causa dela”.

Criado para ampliar o acesso à OBMEP nas escolas municipais, o POM tinha cerca de 40 estudantes em 2022. Hoje, são mais de 900. “A OBMEP se tornou conhecida em todas as escolas, e os estudantes passaram a ver nela uma oportunidade real de futuro”, reforça Paixão.

A preparação também passa pelo PIC, coordenado pelo professor David Figueiredo. “O PIC é o Programa de Iniciação Científica, onde os alunos que se destacam na OBMEP ganham bolsas de estudo, inicialmente de R$ 300, podendo chegar a R$ 600 dependendo do desempenho. O mais importante é que esses alunos conquistam o direito a uma vaga olímpica em universidades, sem vestibular, com possibilidade de mestrado e doutorado incluídos”.

As aulas do POM são realizadas aos sábados, das 8h às 12h, com foco exclusivo em matemática. “Eles não estão ali para aprender o básico da sala de aula, mas para desenvolver raciocínio lógico, interpretação e método”, afirma David.

Sophia, hoje, também ensina colegas mais novos e busca mostrar que é possível. Apesar de já ter sofrido preconceito e bullying, segue firme. “Alguns achavam que, por eu ser medalhista, tinha que ser perfeita o tempo inteiro. E por ser mulher, às vezes me viam como inferior. Mas minha mãe sempre me apoiou. Ela me lembrava que o que incomoda nos outros é justamente o que você conquista.”

Além das medalhas, Sophia também integra o projeto Meninas Olímpicas, voltado para o protagonismo feminino na matemática. Seu objetivo é cursar medicina na USP. “Sou apaixonada por matemática, mas a medicina é meu propósito. Quero ajudar as pessoas. A matemática me ensina a pensar, a ter lógica, e isso também faz parte de ser médica.”

O desempenho da estudante coloca Marituba no mapa das grandes conquistas educacionais do país. Mas mais do que isso, reforça que o talento, com oportunidade e apoio, pode transformar vidas e inspirar novos caminhos.

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