A partir desta segunda-feira (10), Belém assume o protagonismo mundial ao sediar a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). O evento, que se estende até o dia 21 de novembro, marca a primeira vez que uma cúpula do clima da ONU é realizada na Amazônia — bioma que concentra a maior biodiversidade do planeta e tem papel essencial na regulação do clima global.
Com delegações de 194 países e da União Europeia, a capital paraense se transforma temporariamente na capital diplomática e ambiental do planeta, recebendo cerca de 50 mil visitantes, entre chefes de Estado, negociadores, cientistas, representantes de organizações internacionais e movimentos sociais.
O encontro ocorre em um momento crucial, quando as metas do Acordo de Paris, firmado há 10 anos, enfrentam sérios desafios. Apenas 80 países atualizaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa.
Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, esta é “a COP da verdade”. Durante a Cúpula do Clima, realizada nos últimos dias em Belém, Lula defendeu que os países avancem rumo a um acordo global para o fim da dependência dos combustíveis fósseis e reforçou a urgência de financiamento para adaptação e transição energética.
“O presidente Lula quer ver, ao fim da conferência, os países acordando um mapa do caminho — um roteiro de como essa transição vai acontecer, quais países começam primeiro, em quanto tempo e com quanto de financiamento”, explicou Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, em entrevista à Agência Brasil.

Desafios e expectativas
O início da COP30 ocorre em meio a uma conjuntura global complexa, apesar desse quadro, a urgência da agenda climática nunca esteve tão em xeque, em meio a conflitos armados persistentes, a saída dos Estados Unidos (EUA) do Acordo de Paris – com retorno da postura negacionista sobre o tema -, e até um repique no aumento das emissões de gases de efeito estufa ocorrido ano passado, especialmente por causa das emissões de CO2, o principal poluidor da atmosfera. A expectativa é de que Belém consiga recolocar o tema das mudanças climáticas no centro da agenda internacional e impulsionar compromissos concretos.
Até o momento, menos de 80 países atualizaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em inglês). As NDCs são metas de mitigação, ou seja, compromissos adotados pelos países para redução de emissões de gases de efeito estufa, e foram implementadas desde o Acordo de Paris, há exatos 10 anos. Juntas, as NDCs publicadas respondem por 64% das emissões globais. Entre os países que mais emitem esses gases, EUA (antes da posse de Donald Tump), China e União Europeia apresentaram suas metas, mas a Índia, terceira maior emissora, ainda não entregou. Países que representam mais de um terço das emissões globais seguem sem atualizar seus compromissos.

Em sua décima e última carta à comunidade internacional, divulgada no sábado (9), o presidente-designado da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, fez um chamado aos países para que Belém se torne “um ciclo de ação” no enfrentamento da crise climática. Para o embaixador, este é o momento de implementar uma agenda de mudanças focada na união e na cooperação.
Entre os principais eixos de negociação estão:
- Adaptação climática: definição de indicadores para medir como os países se preparam para enfrentar eventos extremos;
- Transição justa: políticas que garantam condições dignas para trabalhadores afetados pela transição para economias de baixo carbono;
- Balanço Global do Acordo de Paris (Global Stocktake): revisão das metas e planos de ação de cada país.
Outro ponto central é o financiamento climático. O plano “Mapa do Caminho de Baku a Belém”, elaborado pelas presidências da COP29 e COP30, busca viabilizar US$ 1,3 trilhão anuais para ações de mitigação e adaptação.
Durante a Cúpula do Clima, o governo brasileiro lançou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, com promessa inicial de US$ 5,5 bilhões destinados à proteção de florestas em 70 países — sendo 20% voltados a povos indígenas e comunidades tradicionais.
Participação popular e mobilização social
Além das negociações oficiais na Zona Azul, restrita a delegações diplomáticas, Belém será palco de uma intensa programação aberta ao público. Na Zona Verde, instalada no Parque da Cidade, a sociedade civil, coletivos, instituições públicas e privadas apresentarão projetos e soluções para a crise climática.
A COP30 também marcará a maior mobilização indígena da história das conferências climáticas, com mais de 3 mil representantes. Na quarta-feira (12), começa a Cúpula dos Povos, na Universidade Federal do Pará (UFPA), com a presença de movimentos sociais, quilombolas, ribeirinhos e lideranças de mais de 60 países.
Uma barqueata no Rio Guamá e uma grande marcha dos povos, no sábado (15), prometem ser os momentos mais simbólicos da mobilização popular.
“Clima não é papo de ambientalista. É sobre o preço do alimento, da energia, do nosso dia a dia”, destaca Astrini. “O fato de a COP ser no Brasil já é uma vitória, porque trouxe para perto setores que nunca haviam se engajado nessa discussão.”
Para Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a COP30 precisa ser o espaço onde as promessas se transformam em ações concretas:
“Em todas as COPs, acordos foram firmados e não cumpridos. O que queremos é estar na mesa de negociação de igual para igual, para garantir que as decisões saiam do papel.”
Com os olhos do mundo voltados para Belém, a Amazônia se torna, a partir de hoje, o palco onde o planeta tenta reescrever seu futuro climático — e onde o Brasil, pela primeira vez, assume o papel de anfitrião de uma conferência que pode definir o rumo da humanidade nas próximas décadas.
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