Com apoio de Helder, Petrobras anuncia perfuração de poço na margem equatorial

Descobertas recentes anunciadas em regiões contínuas a essas fronteiras, especialmente nos vizinhos Guiana e Suriname, indicam relevante potencial de produção de petróleo para a Margem Equatorial brasileira.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, anunciou neste sábado (23) o início da perfuração de um poço na Bacia Potiguar na margem equatorial brasileira.

“É com muita alegria que informo que foi iniciada, nessa manhã, a perfuração do poço 3-RNS-160, Pitu Oeste, na Bacia Potiguar, Margem Equatorial Brasil. Broca no fundo! Dedos cruzados! O futuro já começou! A PETROBRAS VOLTOU”, disse Prates na conta dele na rede social X, o antigo Twitter.

A Bacia Potiguar abrange porções marítimas dos estados do Rio do Grande do Norte e do Ceará e é parte da chamada Margem Equatorial brasileira, que se estende entre os estados do Amapá e do Rio Grande do Norte.

Descobertas recentes anunciadas em regiões contínuas a essas fronteiras, especialmente nos vizinhos Guiana e Suriname, indicam relevante potencial de produção de petróleo para a Margem Equatorial brasileira.

A ideia é que após a perfuração na Bacia Potiguar, a Petrobras consiga obter a licença para pesquisa na Bacia da Foz do Amazonas, que fica localizada próxima ao Amapá e ao Pará.

De acordo com o anúncio de Prates neste sábado, a lâmina d’água é de 1180 metros, a profundidade total esperada é de 4230m, e a expectativa é de que o reservatório seja atingido até o final de janeiro.

Ele falou ainda sobre outro poço que será perfurado na bacia. “O outro poço programado é o Anhanguá, que fica a aproximadamente 80 km da costa, e o início dependerá da duração de Pitu Oeste. Utilizaremos a mesma sonda”, afirmou.

A estatal recebeu a licença para perfurar esse poço no dia 2 de outubro.A companhia não realizava esse simulado (Avaliação Pré-Operacional) desde 2013, quando obteve a primeira licença para a mesma área, em Pitu.

O APOIO DE HELDER


No último dia 13 de novembro, o governador Helder Barbalho (MDB), que também é presidente do Consórcio Amazônia Legal, foi o convidado do programa Roda Viva da TV Cultura, e durante o programa, ele expôs como vê a prática de pesquisa e exploração de petróleo na região próxima à Foz do Rio Amazonas.

“O que eu entendo que este momento deva ser colocado é, a Petrobrás é capaz de pesquisar (possibilidade de exploração de petróleo) cumprindo as normativas e condicionantes estabelecidas pelo Ibama? Se for, que ela possa pesquisar”, comentou.

O governador ainda afirmou que sua gestão entende que “floresta viva” é o grande vetor econômico do estado, mas segundo ambientalistas há uma enorme contradição na fala.

A ANÁLISE DOS AMBIENTALISTAS

O projeto de exploração de petróleo preocupa a comunidade acadêmica. Apesar de a estatal mostrar em seus estudos ao Ibama que um eventual vazamento de óleo não teria condições de chegar ao litoral, pesquisadores discordam.

“Eu estou na região profunda, mas se eu vier a ter um problema pode acontecer bem aqui, a pluma do Amazonas vem e você tem uma retroflexão da pluma. Como você tem essa retroflexão da pluma do Amazonas, se eu dissolver, por exemplo, óleo nessa pluma de sedimentos, eu posso vir a espalhar por aqui e é remoto isso, pode acontecer. É essa a preocupação, de pegar correntes de maré para cá”, avalia a pesquisadora Valdenira Santos, do Instituto de Pesquisas do Amapá.

Outro ponto delicado que compromete essa exploração pela Petrobras é o debate sobre a existência de recifes que gerou polêmica entre a estatal e entidades defensoras do meio ambiente.

“O que a gente tem é uma predominância de algas calcárias, os corais são construtores importantes em algumas regiões do recife particularmente, mas eles não são os elementos primários na construção dessa estrutura rígida”, pondera o professor Reinaldo Filho.

“Os corais que a gente chama de verdadeiros, escleractíneos, não são abundantes mesmo. Eles são relativamente raros, a gente tem poucas espécies”, acrescenta o professor. “Mas a gente tem espécies de corais verdadeiros. Em algumas áreas, a gente encontrou manchas de corais vivos relativamente grandes, mas os organismos que primariamente constroem o recife do Amazonas são as algas calcárias.”

Moradores da região, que dependem das águas do Rio Amazonas para viver, também questionam o projeto e acreditam que um eventual vazamento de óleo poderia chegar facilmente à costa.

Natanael Rocha criou um museu à beira-mar com a quantidade de peças que já encontrou nas águas. “Isso aqui é a polpa de um barco. A gente vai guardando outras peças que o mar vai trazendo e que a gente achou melhor guardar do que extraviar de qualquer jeito”, comenta o comerciante.

Para quem estuda a região, os riscos dessa exploração são reais e um plano de contingência é fundamental.

“Em grande escala, isso é uma questão que o país que tem que pensar. E a região não é prerrogativa da empresa, a prerrogativa da empresa é ela conter o derrame, mitigar os danos e fazer os devidos pagamentos e ressarcimentos pelos danos, mas cabe ao país ter um plano de contingência”, conclui a pesquisadora Valdenira.

PROTESTOS E DESENTENDIMENTO


Ambientalistas protestaram durante todos os dias do evento “Diálogos Amazônicos” , realizados em Belém no início de agosto. “Não queremos óleo no nosso peixe”, gritavam os manifestantes do Instituto Arayara.

Foto: Raimundo Paccó

O pedido da Petrobras foi razão para desconfortos no governo. O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) defende a questão, alegando que este é um desejo da população amapaense. A negativa do Ibama, seguindo recomendação do Ministério Público Federal (MPF) causou mal-estar entre o então senador da Rede e a correligionária e ministra do meio ambiente, Marina Silva. O episódio foi o estopim para a saída de Randolfe do partido.

FRENTE PARLAMENTAR NA ALEPA


Liderada pelo deputado estadual Gustavo Sefer (PSD) e tendo como membros os deputados Iran Lima (MDB), Luth Rebelo (PP) e Nilton Neves (PSD), a frente parlamentar se reuniu em 20 de maio, e segundo Nilton Neves, com total apoio de Helder e do presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), o deputado Chicão (MDB).

“Na noite desta sexta-feira, estive no município do Oiapoque, no estado do Amapá, onde participei da audiência pública “Petróleo e Gás na costa do Amapá – Um debate sobre o Futuro”, onde debatemos com parlamentares e empresários interessados em avançar nas negociações para a exploração de petróleo no estado, que eles denominaram de “novo pré-sal”.

Deputado Gustavo Sefer. Reprodução:Alepa

O Governador Helder Barbalho e o presidente da Alepa Chicão já anunciaram que estão acompanhando nossa agenda e se mostraram abertos a apoiar o projeto de exploração de petróleo, que será executado na costa do Amapá, e terá apoio logístico totalmente sediado em Belém.

Agradeço aos colegas deputados Gustavo Sefer, Luth Rebelo e Iran Lima pela construção do grupo dessa pauta tão importante, para que todas as demandas ponderadas obtenham apoio e avanço nas discussões nacionais”, publicou Nilton em suas redes sociais.

Em uma nota oficial da Alepa, eles afirmaram que o governador Helder Barbalho está apoiando o projeto.

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