Um cenário de descaso e sofrimento tem chamado a atenção de moradores do bairro da Sacramenta, em Belém. No antigo pátio da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob), desativado há cerca de cinco meses, dezenas de cães permanecem confinados, sem acesso regular a alimento, água ou qualquer tipo de cuidado. A situação se agravou desde o fechamento do espaço, quando o local deixou de contar com a presença de um servidor que arcava com a alimentação dos animais.
Sem a manutenção adequada, parte dos cães consegue sair pelas frestas do portão em busca de comida nas ruas vizinhas, muitas vezes rasgando sacos de lixo para sobreviver. Já outros permanecem aprisionados dentro do pátio, debilitados e em estado de extrema fragilidade.
A comerciante e protetora de animais Andreia Silva Melo, de 52 anos, mora próximo ao local e acompanha de perto a situação. Ela conta que, com ajuda de vizinhos, tenta suprir a ausência do poder público levando ração sempre que possível, mas os esforços não são suficientes.
“Tem cachorro lá dentro tão magro, tão abatido, pedindo socorro. É de cortar o coração. Eles não têm como sair para procurar comida, e a gente não consegue entrar porque o espaço está fechado”, relata emocionada.
Segundo Andreia, a comunidade já formalizou denúncias junto à prefeitura e recebeu inclusive um número de protocolo (20250630.000000.123154432). No entanto, até agora, nenhuma providência foi tomada.
“Prometeram vir aqui, falaram até em realizar a castração dos animais, mas não voltaram. Enquanto isso, os bichos continuam sofrendo e passando fome”, acrescenta.
Apesar da denúncia formal, o espaço segue monitorado apenas por seguranças terceirizados que fazem rondas periódicas, mas não oferecem qualquer tipo de assistência aos cães. Para os moradores, a inércia da gestão municipal não apenas aprofunda o sofrimento dos animais como também representa um risco à saúde pública.
O temor é de que os cães que conseguem escapar do local se tornem vetores de doenças, já que circulam livremente pelas ruas do bairro, em busca de alimento. “É uma questão de humanidade, mas também de saúde coletiva. O poder público precisa agir”, cobra Andreia.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Belém para obter esclarecimentos sobre a denúncia e sobre a situação dos animais no pátio da Semob, mas até o fechamento desta matéria não houve resposta.
O caso surge em meio a outras polêmicas envolvendo a política de proteção animal na capital. Recentemente, a gestão do prefeito Igor Normando anunciou reformas no Hospital Veterinário Municipal Dr. Vahia, dentro do programa “Belém Animal”. Apesar de anunciada como medida positiva, a decisão gerou críticas e protestos de protetores independentes e organizações da sociedade civil, que reclamam da falta de alternativas emergenciais enquanto a unidade permanece fechada para obras.
Enquanto o impasse não é solucionado, moradores da Sacramenta e protetores independentes seguem mobilizados para evitar que os animais abandonados no pátio da Semob fiquem totalmente desassistidos. De forma improvisada e com recursos próprios, eles tentam garantir o mínimo de dignidade para os cães que resistem no espaço.
“Não é só uma questão de amor aos animais. É responsabilidade social. A prefeitura precisa entender que cada dia sem uma ação concreta é um dia a mais de sofrimento para esses bichos”, conclui Andreia.
Sem alimento e cuidados, animais agonizam em pátio desativado da Semob; comunidade tenta ajudar com recursos próprios.
Um cenário de descaso e sofrimento tem chamado a atenção de moradores do bairro da Sacramenta, em Belém. No antigo pátio da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob), desativado há cerca de cinco meses, dezenas de cães permanecem confinados. pic.twitter.com/ZOmgv3jsZR
— Portal Estado do Pará Online (@Estadopaonline) September 4, 2025
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