Cacique Raoni cobra Lula e Macron e critica planos de exploração de petróleo na Amazônia - Estado do Pará Online

Cacique Raoni cobra Lula e Macron e critica planos de exploração de petróleo na Amazônia

Durante barqueata na Cúpula dos Povos, líder caiapó voltou a pedir o fim de projetos de mineração e perfuração em terras indígenas e alertou para o futuro da floresta e das novas gerações

Ricardo Stuckert/PR

Enquanto dezenas de embarcações coloriam as águas da Baía do Guajará, em Belém, o cacique Raoni Metuktire usava o microfone como arma contra o que considera uma das maiores ameaças à Amazônia: a exploração de petróleo. O líder caiapó participou da “barqueata” que abriu a Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP30, e aproveitou o ato para cobrar ações concretas dos governos brasileiro e francês.

Raoni afirmou ter conversado recentemente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o francês Emmanuel Macron. Segundo ele, o pedido foi direto: que ambos não autorizem perfurações em áreas da floresta.

“Falei com o presidente Lula para ele não procurar petróleo aqui. Vou continuar cobrando. Penso em marcar um novo encontro com ele para falar sobre isso. Temos que ser respeitados”, declarou o cacique, em tom firme.

Tânia Rêgo / Agência Brasil.

O posicionamento de Raoni surge em meio à polêmica envolvendo a Petrobras, que no fim de outubro recebeu licença do Ibama para realizar pesquisas exploratórias na Margem Equatorial, região do norte do país apontada como o novo pré-sal. Ambientalistas alertam para riscos irreversíveis ao ecossistema, enquanto o governo insiste que o processo seguiu critérios técnicos e rigorosos.

Reconhecido mundialmente pela defesa dos povos indígenas e da Amazônia, Raoni é símbolo de resistência desde os anos 1950. Participou da Constituinte de 1988 e percorreu o mundo em campanhas ambientais, incluindo uma turnê com o cantor Sting. Em 2023, subiu a rampa do Planalto durante a posse de Lula, gesto visto como um tributo à luta indígena.

“Quando encontro autoridades lá fora do país, nenhuma me oferece dinheiro em troca de madeiras no meu território, nenhum me oferece dinheiro em troca de minérios no meu território. Mas eu os cobro diretamente. Ninguém deve comprar nossas terras ou nossas madeiras. Preciso falar para que nosso território seja preservado e respeitado para a gente viver bem nas nossas terras”, reforçou.

Ao ser questionado sobre o papel do Brasil na crise climática, Raoni afirmou que a Amazônia é vital para o planeta e que a responsabilidade do país é global. “Se continuar o desmatamento, nossos filhos e netos vão ter problemas sérios. O nosso território garante a respiração do mundo inteiro.”

O cacique, que deve ter cerca de 90 anos, lembrou que fala sobre preservação desde a juventude. “Há muito tempo já venho alertando. Vocês estão vendo rios secando por causa do desmatamento. Se continuarem nesse ritmo, muita coisa ruim vai acontecer”, disse.

Antes de encerrar, Raoni destacou a força das mulheres indígenas nas mobilizações e o engajamento das novas gerações. “Elas estão com vontade de participar, têm opinião. Eu apoio e gosto das mulheres que estão junto com a gente nessas lutas”, completou.

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