O Bispo Emérito do Marajó, Dom José Luis Azcona Hermoso, está sendo obrigado pelo Vaticano a deixar o Marajó. A informação foi confirmada pelo padre José Antônio, pároco de Soure, em um comunicado aos fiéis após muitas perguntas a respeito do assunto.
“Queridos paroquianos, diante das perguntas acerca da informação sobre a saída de Dom José da Prelazia do Marajó, devo dizer que, infelizmente, é verdade. Dom José recebeu um comunicado da Nunciatura Apostólica do Brasil, onde afirma que deve deixar a prelazia do Marajó. São essas as informações que tenho até o momento. Rezemos por nosso eterno pastor”, afirmou.
Os motivos da saída do bispo, até o momento não foram informados. Ele está em viagem e ainda não se pronunciou sobre o ocorrido. Segundo as informações, provavelmente Dom deixará o Marajó a partir de 13 de janeiro, quando Dom José Ionilton Lisboa chega para assumir a prelazia.
A redação do portal Estado do Pará Online recebeu um áudio que seria de Dom José Ionilton Lisboa, falando da saída de Dom Ascona e que estaria disposto a luta por sua permanência no Marajó.
O provável destino do religioso é uma casa de recolhimento para bispos em Belém, o que na prática representa uma aposentadoria.
Histórico de Dom no arquipélago
Há mais de 30 anos de Marajó, Dom Azcona é um dos mais profundos conhecedores da realidade marajoara. Também por isso é combativo em relação à exploração sexual infantil e ambiental, desagradando políticos, latifundiários e até religiosos. Ele luta pelos direitos humanos na região e por estas razões, ele já foi premiado, mas também ameaçado de morte pelas máfias locais.
O bispo nasceu em Pamplona, na Espanha, em 1940, mas atua no Brasil desde 1985 e no Marajó desde 1987. Em 2009, suas denúncias sobre casos de pedofilia e exploração sexual de crianças e adolescentes no Marajó, envolvendo políticos e empresários, levou a Assembleia Legislativa do Pará a instaurar a CPI da Pedofilia.
Foi ele, por exemplo, quem recebeu a denúncia de possíveis crimes sexuais praticados dentro da igreja pelo arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, e que deu encaminhamento ao processo que foi encerrado sem a condenação do religioso.
Dom Azcona também publicou uma série de artigos, na qual critica o programa Avança Pará, do Governo do Estado. Nos seus artigos ele condenou o projeto pela ausência de consulta popular na região do Marajó para determinar prioridades e necessidades reais. Também criticou o empréstimo de 280 milhões de dólares feito pelo estado, argumentando que o governo adota uma postura assistencialista e nunca tratando o marajoara como sujeito de direitos, mas sim como um objeto degradado e um cidadão “de menor”, alguém que infelizmente sempre precisará do “grande padrinho”.
O bispo também também levantou questões sobre uma possível falta de transparência na alocação dos recursos provenientes do Banco Mundial. Ele questionou, como confiar na representação do Estado e do Banco Mundial quando, na realidade, o programa AP tem sido desenvolvido de maneira completamente reservada, desde o seu início até o seu desfecho?
Em seu último artigo, o qual ele descreveu como “Carta (final) de repúdio ao Programa Avança Pará”, Azcona criticou a política de negociação de créditos de carbono, especificamente a comercialização destes sobre áreas de assentamento habitadas por 1.484 famílias ribeirinhas, localizadas no município de Portel, na ilha do Marajó.
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