Belém, Cidade Partida

Em Junho de 2023, Helder, Lula e Edmilson assinaram termos de cooperação para obras e serviços na capital paraense, em preparação para a COP30.

Por Ronaldo Brasiliense

Afora este período eleitoral, onde todos mentem, como ensinou o chanceler alemão Von Bismarck, nossa Belém do Grão Pará tem tudo para mostrar ao mundo na Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 30, em novembro de 2025, que é uma Cidade Partida.

Os bilhões de investimentos anunciados pelos governos federal, estadual e municipal na mais charmosa capital da Amazônia não evitarão que Belém exiba para o mundo suas favelas de palafitas nos bairros periféricos, com esgoto a céu aberto, que colocam Belém entre as piores capitais brasileiras em termos de saneamento básico, como mostram os relatórios anuais do Instituto Trata Brasil.

Belém, mal comparando, vai receber um “banho de loja”, com o Parque da Cidade, na área do antigo Aeroclube, no entorno da avenida Júlio Cesar, antiga Maracangalha; a reforma dos centenários mercados do Ver-o-Peso e São Brás, com o prolongamento da Estação das Docas, na zona portuária, e principalmente com a “Nova Doca”, um investimento superior a R$ 300 milhões para beneficiar as elites da capital.

Vamos conviver e mostrar para o mundo na COP 30 a “Nova Doca”, e o “Velho Barreiro, o Velho Bengui, o Velho Mata Fome, o Velho Guamá e a Velha Terra Firme”, entre os bairros tristemente famosos por suas favelas e falta de saneamento básico.

Esgoto a céu aberto em Belém — Foto: Ingrid Bico/G1 PA

Imaginem se os R$ 300 milhões da “Nova Doca” fossem investidos na “Nova Orla” da Estrada Nova, do Portal da Amazônia ao campus da Universidade Federal do Pará, abrindo para a população aparelhos públicos em toda a extensão do Rio Guamá?

O legado na parte ambiental da COP 30 serão os estragos nos remanescentes de floresta tropical úmida de Belém, Ananindeua e Marituba provocados com a implantação a toque de caixa da Avenida Liberdade, unindo a Avenida Perimetral, em Belém, à Alça Viária, em Marituba, cortando o Parque Estadual do Utinga e os arredores dos mananciais dos Lagos Bolonha e Água Preta, que abastecem a capital, além dos prováveis impactos no Quilombo Abacatal, em Ananindeua.

Sem falar da nova Avenida da Marinha, cortando remanescentes florestais em um dos poucos parques municipais existentes em Belém, obra polêmica que contrapõe, no momento, os governos do Estado e do municipio.

A defesa da floresta em pé, do desmatamento zero, da reposição de carbono, não pode ser apenas um discurso vazio para inglês – americanos e europeus – ver e achar que a Floresta Amazônica enfim tem defensores, os mesmos que são aliados declarados de fazendeiros, da turma do agronegócio, e dos garimpeiros que abundam por todo o Pará.

Esta postagem é só para não dizer que não falei das flores.

Um ótimo junho – mês das quadrilhas – para todos nós.

Ronaldo Brasiliense é um dos jornalista paraenses com mais prêmios nacionais recebidos em sua carreira e atualmente reside no município de Óbidos.

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