A perigosa espera pelo sucesso alheio e o mal do comodismo - Estado do Pará Online

A perigosa espera pelo sucesso alheio e o mal do comodismo

Em tempos em que a vida alheia se tornou vitrine, especialmente nas redes sociais, cresce um fenômeno silencioso, mas extremamente nocivo: o de pessoas que aguardam, quase de forma ansiosa, que outros conquistem sucesso para então se beneficiar. Não se trata apenas de admiração. É um tipo de expectativa que mistura inveja e comodismo, em que se deseja não só os bens materiais, mas também o tratamento e os privilégios que recaem sobre quem venceu.

Esse comportamento, cada vez mais comum, revela o quanto a cultura da comparação pode corroer projetos de vida. Ao invés de servir como inspiração, o sucesso alheio passa a ser visto como atalho. “Se meu ídolo conquistou, talvez eu consiga um pedaço disso”, pensa o observador passivo. O problema é que essa lógica transfere para o outro a responsabilidade que deveria ser pessoal.

O resultado é previsível: frustração, estagnação e relações superficiais. Frustração porque a vida de ninguém é capaz de suprir a falta de sentido da própria. Estagnação porque, ao esperar que a vitória venha de fora, abandona-se o esforço individual. Relações superficiais porque a aproximação com quem se destacou deixa de ser genuína e passa a ser interesseira.

Esse modo de viver é prejudicial não só para quem o pratica, mas também para o ambiente em que está inserido. Afinal, uma sociedade formada por indivíduos que apenas esperam pelo brilho do outro dificilmente avançará em criatividade, inovação e responsabilidade coletiva.

O antídoto está em resgatar a noção de autoria sobre a própria vida. Admirar pode ser saudável, mas admirar com passividade é perigoso. Cada conquista deve ser construída com esforço pessoal, e cada reconhecimento precisa nascer de mérito próprio. O sucesso alheio pode, sim, inspirar. Mas jamais deve substituir a luta por uma trajetória autêntica.

1. Na música e no entretenimento

  • “Amigos da fama”: é comum ver pessoas próximas a artistas ou atletas que se acomodam à sombra do sucesso. Muitos entram em círculos sociais de celebridades não para construir sua própria trajetória, mas para usufruir de privilégios — festas, dinheiro fácil, status — sem esforço. Quando o ídolo perde espaço ou enfrenta dificuldades, esses “amigos” desaparecem.
  • Casos de herdeiros de artistas: em várias famílias famosas, filhos ou parentes vivem apenas da reputação construída pelos pais, sem buscar identidade própria. Quando a herança ou a relevância midiática se esgota, ficam sem rumo.

2. No esporte

  • Jogadores dependentes de empresários ou clubes: há atletas que, em vez de se dedicarem à disciplina e ao treino, confiam apenas na promessa de que empresários ou técnicos irão “abrir portas”. Sem esforço real, muitos acabam esquecidos e não atingem o auge que esperavam herdar de suas conexões.
  • Ex-companheiros de craques: amigos de grandes estrelas do futebol muitas vezes usufruem da vida de luxo oferecida por eles — viagens, festas, presentes. Mas quando o ciclo de sucesso termina, ficam sem estrutura, porque nunca investiram no próprio futuro.

3. Na política

  • Apadrinhados acomodados: em diversos contextos políticos, assessores e aliados próximos de líderes fortes vivem apenas da influência do padrinho político. Muitos não desenvolvem carreira própria, esperando se beneficiar indefinidamente. Quando a liderança perde espaço, ficam sem suporte e sem relevância.
  • Famílias políticas: há também filhos e parentes de políticos que herdam mandatos ou cargos, mas não têm preparo ou dedicação real. Confiam no “sobrenome”, mas sem construir competência, sua trajetória costuma ser frágil e limitada.

4. No cotidiano

  • Heranças familiares: muitas pessoas vivem na expectativa da herança de pais ou avós, deixando de construir patrimônio próprio. O comodismo faz com que não desenvolvam profissão sólida, e quando a herança tarda ou não vem como esperado, enfrentam frustrações profundas.
  • Dependência em relacionamentos: alguns parceiros se apoiam exclusivamente na carreira ou nos bens do outro, em vez de buscar independência. Essa postura gera relações frágeis e destrutivas quando a base de apoio se desfaz.
  • Em todos esses exemplos, o ponto em comum é a ilusão de que o sucesso do outro garante, por tabela, segurança e realização. O resultado é quase sempre o mesmo: frustração, ressentimento e estagnação.

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