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A importância das pesquisas eleitorais para 2026

Longe de serem irrelevantes, as pesquisas eleitorais de 2025 são a bússola que orienta a longa travessia até outubro de 2026. Elas não preveem o futuro, mas iluminam o presente, permitindo ajustes táticos, a construção de marcas políticas sólidas e a identificação de oportunidades invisíveis a olho nu.

Hana e Daniel
Hana e Daniel: Players que lideram as pesquisas e geram polêmicas dentro e fora de suas bolhas.

Por Dornélio Silva, cientista político e diretor do Instituto Doxa de pesquisas

É comum ouvir, neste momento de 2025, que as pesquisas eleitorais para as eleições de outubro de 2026 são um exercício de futurologia inútil. “É muito cedo”, dizem alguns analistas. No entanto, essa visão tradicional pode ser um erro estratégico grave. Em um cenário político cada vez mais volátil e midiático, com a forte presença das redes sociais, a pesquisa é, mais do que nunca, o principal instrumento de conhecimento que um político possui para traçar suas estratégias e, fundamentalmente, para ir corrigindo os rumos da campanha muito antes dela começar oficialmente.

Atrasar a leitura do eleitorado agora é como um navegador se recusar a verificar a rota no início da viagem. O destino final pode estar longe, mas os desvios iniciais, se não corrigidos, tornam a chegada impossível. A eleição de 2026 não começará em agosto do próximo ano; ela já está em curso. Basta observar a movimentação nas ruas, nas redes sociais, nas inaugurações, nas entregas de deputados federais e estaduais em municípios, nas articulações de fechamento de cabos eleitorais em todos os cantos do estado.

Um exemplo claro é a candidata do governador Helder. Sua equipe já lançou até jingles, uma ferramenta clássica de construção de marca, e promove uma exposição calculada em eventos governamentais, especialmente inaugurações. Cada aparição, cada gesto, é um ato de campanha. Sem a métrica das pesquisas para avaliar o impacto dessas ações, todo esse esforço se torna um tiro no escuro. A pesquisa é a luz que mostra se o alvo está sendo atingido, se o nome está sendo fixado na mente do eleitor e, acima de tudo, qual a carga (positiva ou negativa) que esse nome carrega.

Pesquisa para cargos proporcionais

Se a pesquisa é vital para os majoritários (governador, senador, presidente), ela é estratégicapara os candidatos a deputados estaduais e federais. O argumento de que “são muitos nomes”, “que fragmenta demais” é exatamente o motivo pelo qual começar agora a pesquisa não é uma opção, mas uma necessidade.

Em um mar de centenas de candidatos, a visibilidade é o bem mais escasso e valioso. Um candidato a deputado que espera 2026 para se lançar e medir sua força já perdeu a corrida. As pesquisas deste momento são fundamentais para testar rejeição e nível de conhecimento dos candidatos. Um nome desconhecido tem poucas chances. Um nome conhecido, mas com alta rejeição, precisa de um reposicionamento urgente. A pesquisa é para isso: identificar com antecedência para fazer mudanças estratégicas.

Evidentemente que a pesquisa tem que focar, inicialmente, nos atuais deputados que estão exercendo seus mandatos porque a grande maioria vai para a reeleição. Após fazer uma pergunta específica para medir o desempenho dos deputados, faz-se uma outra com os novos nomes que estão se apresentando da região que está sendo pesquisada.

O nosso sistema eleitoral para cargos proporcionais não é distrital, mas, na prática funciona como tal, tendo em vista que a estratégia para conquista dos votos é regionalizada. De posse dos dados, faz-se a análise comparativa. Daí podemos identificar quem serão os concorrentes fortes que ameaçam aqueles que estão no poder.

A partir das convenções partidárias em que os partidos vão aprovar os nomes dos candidatos aos cargos proporcionais, a Doxa implementará sua metodologia em que vamos fazer várias pesquisas estaduais onde serão acumuladas para depois formar uma amostra significativa e confiável. Então, vamos fazer um estudo em que aplicamos nesse banco de dados as regras das eleições, levando-se em consideração o quociente eleitoral e partidário. Nesse estudo vamos indicar o potencial de cadeiras que cada partido ou federação fará na câmara dos deputados e na assembleia legislativa.

Por outro lado, as pesquisas vão indicar quais candidatos são fortes, isto é, que tem potencial de se eleger. Esse candidato forte carrega consigo a capacidade de influenciar eleitores e, consequentemente, de angariar apoio para a chapa majoritária. As pesquisas mostram quais nomes têm esse capital e podem ser mais bem aproveitados em uma campanha.

Hoje, podemos afirmar, baseado em dados da última pesquisa Doxa, que 30% do eleitorado paraense ainda não tem algum nome de candidato na mente. Esse teste foi feito pela pesquisa estimulada quando os nomes dos candidatos são apresentados aos entrevistados. Vale ressaltar que a eleição é demasiadamente estimulada, isto é, os eleitores são bombardeados constantemente com os nomes dos candidatos. E, hoje, no Pará a eleição já está polarizada entre a candidata do governador Helder Barbalho, lançada há mais de dois anos, Hana Ghassan, e o prefeito de Ananindeua, Dr. Daniel.

Outro exemplo claro da importância crucial das pesquisas para o  eleitor e, especialmente, para os estrategistas de candidatos, foi uma pesquisa Doxa lançada em dezembro de 2024: marco zero da Doxa no processo eleitoral das pesquisas. Nessa pesquisa estadual os nomes de Hana e Dr. Daniel já estavam postos, no entanto, tínhamos saído de uma campanha para prefeitos e vereadores. O eleitor ainda não estava ligado a uma campanha para governador.

Nessa pesquisa Dr. Daniel apareceu com 13% das intenções de voto e Hana, 12%, tecnicamente empatados. E o índice de eleitores que não se manifestaram chegava ao patamar de 48%, mesmo estimulando os nomes dos pré-candidatos.

Hoje, com a intensidade da campanha, Dr. Daniel pulou para 32% e Hana 19%. E o índice de votos flutuantes, isto é, que não tem definição nenhuma de candidatos caiu para 30%. E essas pesquisas, bem analisadas, mostram onde cada candidato tem fragilidade e onde tem potencialidade. A partir dessas informações montam suas estratégias para tornarem-se mais conhecidos e, por conseguinte, conquistarem mais adeptos.

Outro fator relevante que deve ser considerada e analisada é a rejeição dos pré-candidatos ao cargo de governador. As pesquisas 2025 já indicam essa tendência de quem é o mais rejeitado ou menos rejeitado. Hana em janeiro/2025 tinha uma rejeição baixa, um pouco menos de 5%. Hoje, ela se apresenta como a segunda mais rejeitada. Hana nunca foi política, talvez essa rejeição seja pelo desconhecimento ou esteja atraindo a rejeição de Helder. Os estrategistas, com certeza, estão estudando para diminuir essa rejeição. Por outro lado, Dr. Daniel sempre se apresentou com a menor rejeição, mesmo sendo político: vereador, deputado, prefeito. Todas essas variáveis são detectadas pela pesquisa. Dai a grande importância da pesquisa bem antes do processo eleitoral.

Ignorar as pesquisas neste momento é abrir mão do planejamento estratégico. É permitir que os concorrentes, que certamente estão encomendando seus próprios estudos, definam a agenda e ocupem os espaços na mente do eleitor primeiro.

Portanto, longe de serem irrelevantes, as pesquisas eleitorais de 2025 são a bússola que orienta a longa travessia até outubro de 2026. Elas não preveem o futuro, mas iluminam o presente, permitindo ajustes táticos, a construção de marcas políticas sólidas e a identificação de oportunidades invisíveis a olho nu. Para o político que almeja o sucesso, começar agora não é cedo demais; é o timing perfeito. Quem esperar pelo “momento certo” pode descobrir que ele já passou.

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