Às vésperas da COP 30, que será realizada em Belém, o Brasil tem diante de si uma oportunidade histórica: mostrar ao mundo que é possível gerar riqueza sem destruir a floresta. Esse caminho passa pela construção de uma economia da floresta em pé, capaz de transformar a biodiversidade em valor econômico e social.
Há muito defendo que conservar a Amazônia exige dar à floresta um destino produtivo compatível com sua complexidade. Reduzi-la à monocultura é mais que um erro – é um genocídio ecológico. O modelo agronômico europeu nos ensinou a substituir a sinfonia da biodiversidade por uma melodia única. Nesse processo, condenamos ao silêncio mais de dezesseis mil espécies.
A monocultura, isolada do equilíbrio natural, não sobrevive sozinha. Para fazê-la produzir, é preciso travar uma guerra contra a vida: fungicidas, herbicidas e inseticidas garantem produtividade às custas de rios contaminados, solos degradados e da saúde humana. É uma economia de curto prazo que destrói o próprio futuro.
Mas a alternativa já existe. No Amapá, a Flor da Samaúma mostra que é possível gerar valor a partir da biodiversidade, transformando a polpa de açaí em fermentados artesanais – como o AçaíTinto – de alto valor agregado. É um produto final, que cria empregos locais, movimenta a economia regional e mantém a floresta viva. Aqui, a diversidade é a principal vantagem competitiva.
Os combustíveis fósseis e o desmatamento são os dois grandes vilões da crise climática. Enquanto os primeiros liberam carbono acumulado há milhões de anos, o segundo destrói o maior sumidouro de carbono do planeta. Valorizar a floresta em pé é combater, de uma só vez, esses dois males.
A Amazônia pode ser a resposta que o planeta busca: uma economia baseada em conhecimento tradicional, ciência e inovação, que transforma a natureza em aliada do desenvolvimento.
Na COP 30, é hora de o mundo reconhecer que o futuro da Amazônia – e talvez do clima global – depende de enxergarmos a floresta não como obstáculo, mas como a base de uma nova economia sustentável e justa.
- Ex-preso político, ex-prefeito de Macapá, ex-governador do Amapá, ex-senador da República e empresário da sociobiodiversidade amazônica.
Texto: João Capiberibe
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