Agricultores familiares do Pará se preparam para fornecer alimentos na COP 30 em Belém - Estado do Pará Online

Agricultores familiares do Pará se preparam para fornecer alimentos na COP 30 em Belém

O evento, além de discutir políticas globais, pretende fortalecer soluções locais, mostrando ao mundo a biodiversidade alimentar do Pará e a força das comunidades tradicionais.

Foto Alex Ribeiro / Ag. Pará

Com a aproximação da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém, agricultores familiares do Pará se mobilizam para fornecer alimentos que irão compor as refeições de mais de 20 mil participantes do maior evento climático do mundo.

A iniciativa, apoiada pelo Governo do Pará por meio da Secretaria de Estado da Agricultura Familiar (Seaf) e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), pode beneficiar cerca de 300 mil pequenos produtores espalhados pelo estado, fortalecendo a agricultura familiar e impulsionando a economia local.

Um desses produtores é Kleiton Souza Rodrigues, agricultor quilombola da comunidade Nossa Senhora de Fátima do Crauateua, em São Miguel do Guamá. Para ele, a chance de participar da COP 30 representa o reconhecimento da luta e tradição dos povos originários.

“Eu me sinto privilegiado de poder contar com esse apoio, ser reconhecido por toda uma dedicação, toda uma história e toda uma luta que a gente, como povos tradicionais, estamos trazendo com nossa ancestralidade”, afirmou Kleiton.

Produção quilombola e bioeconomia em destaque

O Pará abriga 86 comunidades quilombolas no nordeste do estado, desde Santa Izabel até Cachoeira do Piriá, na fronteira com o Maranhão. São cerca de 40 mil pessoas e 640 famílias dedicadas à produção de alimentos como açaí, milho, mandioca, jambu, chicória, cheiro-verde, frutas, mel e legumes — insumos que abastecem grande parte das mesas paraenses e representam 70% dos alimentos consumidos no Brasil.

Para o secretário da Seaf, Cássio Pereira, a COP 30 será uma vitrine para a culinária paraense, já que pratos icônicos como tacacá, pato no tucupi, farinha, tapioca e beiju — todos derivados da mandioca — têm origem direta da agricultura familiar.

“O maior divulgador dos nossos produtos será a culinária paraense, extremamente conhecida e desejada pelos participantes. Precisamos informar que todos os ingredientes vêm de áreas da agricultura familiar”, ressaltou.

A bioeconomia também ganhará força no evento. Produtos como cacau, chocolate, cupuaçu, açaí, bacuri e castanha-do-Pará — produzidos em comunidades tradicionais, como a ilha do Combu — ganharão visibilidade internacional, abrindo portas para novos mercados.

Agricultura familiar como motor da economia rural

Em Benevides, na Grande Belém, Sidney Paula da Luz, conhecido como Paulo da Horta, também está animado com a oportunidade de ter sua produção incluída na COP 30. Com mais de 25 variedades de insumos regionais — de hortaliças a frutas como cupuaçu e açaí — ele vê o evento como uma chance de fortalecer o pequeno agricultor.

“Participar da COP 30 é uma vitrine incrível, aumentando não só a visibilidade dos nossos produtos, mas também o reconhecimento da nossa cultura agrícola”, afirmou.

Para garantir que mais produtores como Sidney participem, o Governo do Pará reforça a importância da assistência técnica rural e da inscrição no Cadastro Nacional de Agricultura Familiar. A Emater atua oferecendo suporte para melhorar práticas agrícolas e facilitar o acesso a programas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Investimento e organização coletiva

O diretor da Seaf, Anderson Serra, destacou que há um compromisso em priorizar a compra de produtos das comunidades tradicionais e quilombolas.

“São alimentos saudáveis e, em grande parte, livres de agrotóxicos. Precisamos investir na regularização fundiária e no fomento à produção para que esses agricultores tenham acesso às políticas públicas”, afirmou.

Um exemplo desse esforço é a Cooperativa Quilombola do Nordeste Paraense Agricultura Familiar e Agroecologia (Cooquinopafa), em Santa Rita do Crauateua, que já beneficia diretamente 30 famílias e vende sua produção organizada para o PNAE e o PAA da Conab.

Para Antônio Baía Araújo, presidente da cooperativa, a COP 30 será uma oportunidade para desmentir estereótipos sobre a produção quilombola:

“Já ouvi que os territórios quilombolas não têm produção, isso é uma grande mentira. Produção nós temos. O que precisamos ainda mais é de investimentos e técnicos que desenvolvam ações conosco, trocando saberes”, afirmou Antônio, que também cultiva insumos amazônicos e mantém uma criação de 1.700 peixes — tambaquis e tilápias — em sua propriedade.

Expectativas para a COP 30

A participação dos agricultores familiares na COP 30 reforça o papel da agricultura sustentável no combate às mudanças climáticas. O evento, além de discutir políticas globais, pretende fortalecer soluções locais, mostrando ao mundo a biodiversidade alimentar do Pará e a força das comunidades tradicionais.

Com apoio técnico, incentivos econômicos e a visibilidade trazida pelo evento, a expectativa é que a COP 30 deixe um legado duradouro para a agricultura familiar no estado, impulsionando a bioeconomia e conectando a produção local a novos mercados nacionais e internacionais.

Leia também: