STJ abre precedente e garante transferência de adolescente trans para unidade socioeducativa feminina no Pará

O caso, que ocorreu em Belém, abre um precedente legal que poderá ser usado como referência em todo o Brasil para proteger os direitos de adolescentes trans em situação semelhante.

Uma decisão inédita do Superior Tribunal de Justiça (STJ), conquistada por meio da atuação da Defensoria Pública do Pará (DPE-PA), garantiu, nesta sexta-feira (28), a transferência de uma adolescente transgênero para um estabelecimento socioeducativo feminino. O caso, que ocorreu em Belém, abre um precedente legal que poderá ser usado como referência em todo o Brasil para proteger os direitos de adolescentes trans em situação semelhante.

A jovem, que cumpria medida socioeducativa em uma unidade masculina, teve seu direito à transferência inicialmente reconhecido em primeira instância, mas a decisão foi suspensa após recurso do Ministério Público junto ao Tribunal de Justiça do Pará. Sem sucesso no recurso estadual, a Defensoria acionou o STJ por meio de Habeas Corpus, destacando a grave violação de direitos e os riscos à integridade física da adolescente.

A defensora pública Anelyse Freitas, coordenadora do Escritório de Representação em Brasília, explicou que a urgência do caso permitiu acionar o STJ, mesmo com o processo ainda em andamento no Pará. “Provamos que havia risco concreto à integridade da adolescente, o que exigiu uma resposta imediata do tribunal”, afirmou.

Essa é a primeira vez que o STJ decide favoravelmente à transferência de uma adolescente trans em cumprimento de medida socioeducativa, alinhando-se à Resolução nº 348/2020 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que garante o direito à autodeterminação de gênero para pessoas privadas de liberdade.

O defensor público Márcio Coelho, coordenador do Núcleo de Atendimento Especializado da Criança e do Adolescente (Naeca), celebrou a vitória: “É um passo essencial para a construção de um sistema socioeducativo mais justo e humano. A articulação entre Naeca, Entrância Especial e Representação em Brasília foi determinante para assegurar a dignidade da assistida”.

O caso reforça a importância de proteger os direitos da população LGBTQIA+, especialmente em ambientes de privação de liberdade. Segundo dados de 2023 do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), há 46 meninos transgêneros e 10 meninas transgêneros em medidas socioeducativas no Brasil.

Essa decisão histórica não apenas muda a realidade de uma adolescente no Pará, mas também fortalece a luta pelos direitos humanos e pela dignidade das pessoas trans em todo o país.

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