Correios planejam fechar mil agências e reduzir quadro em até 15 mil funcionários - Estado do Pará Online

Correios planejam fechar mil agências e reduzir quadro em até 15 mil funcionários

Reestruturação mira cortes bilionários, mudanças operacionais e novo modelo para conter prejuízos acumulados nos últimos anos

Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil

O fechamento de cerca de mil agências próprias está no centro do plano apresentado pela direção dos Correios para enfrentar a crise financeira da estatal. A medida corresponde a 16% das unidades existentes no país e integra o Plano de Reestruturação 2025–2027, divulgado nesta segunda-feira (29).

A expectativa da empresa é gerar uma economia de R$ 2,1 bilhões apenas com a desativação das agências. Atualmente, além das seis mil unidades próprias, os Correios contam com aproximadamente 10 mil pontos de atendimento operados por parceiros em todo o território nacional.

Segundo o presidente da estatal, Emmanoel Rondon, o enxugamento não comprometerá o atendimento à população, obrigação legal da empresa. “A gente vai fazer a ponderação entre resultado (financeiro das agências) e o cumprimento da universalização para a gente não ferir a universalização ao fecharmos pontos de venda da empresa”, afirmou.

O impacto mais sensível do plano está no quadro de pessoal. A direção prevê dois Programas de Demissão Voluntária (PDVs), um em 2026 e outro em 2027, com potencial de reduzir o efetivo em até 15 mil trabalhadores. A meta é alcançar uma economia anual de R$ 2,1 bilhões em despesas com pessoal.

De acordo com Rondon, a estrutura atual dificulta ajustes rápidos. “A gente tem 90% das despesas com perfil de despesa fixa. Isso gera uma rigidez para a gente fazer alguma correção de rota quando a dinâmica de mercado assim exige”, explicou.

O plano também projeta redução total de gastos de R$ 5 bilhões até 2028, incluindo a venda de imóveis, que deve render R$ 1,5 bilhão aos cofres da empresa. Outro ponto sensível é a revisão dos planos de saúde e previdência dos servidores, considerados financeiramente inviáveis no formato atual.

“O plano [de saúde] tem que ser completamente revisto e a gente tem que mudar a lógica dele porque hoje ele onera bastante. Ele tem uma cobertura boa para o empregado, mas, ao mesmo tempo, financeiramente insustentável para a empresa”, justificou o presidente.

Os números expostos pela direção ajudam a dimensionar a crise. Em 2025, os Correios acumulam déficit de R$ 6 bilhões apenas nos nove primeiros meses do ano, além de um patrimônio líquido negativo de R$ 10,4 bilhões. Segundo a estatal, desde 2022 o déficit estrutural gira em torno de R$ 4 bilhões por ano, atribuído ao custo da universalização do serviço postal.

Para reforçar o caixa, a empresa contratou recentemente um empréstimo de R$ 12 bilhões com bancos, assinado na última sexta-feira (26). Mesmo assim, a direção admite que ainda busca outros R$ 8 bilhões para equilibrar as contas em 2026.

A partir de 2027, o plano também abre caminho para uma mudança no modelo societário. Hoje 100% pública, a companhia estuda a possibilidade de abrir capital, tornando-se uma empresa de economia mista, nos moldes da Petrobras e do Banco do Brasil.

Ao justificar as medidas, Rondon afirmou que a crise não é exclusiva do Brasil. “É uma dinâmica de mercado que aconteceu no mundo inteiro e algumas empresas de correios conseguiram se adaptar. Várias dessas empresas ainda registram prejuízos”, disse, citando o serviço postal dos Estados Unidos, que enfrenta perdas bilionárias.

Apesar do cenário, o presidente sustenta que o plano vai além do ajuste fiscal. “Esse plano vai além da recuperação financeira. Ele reafirma os Correios como um ativo estratégico do estado brasileiro, essencial para integrar o território nacional”, concluiu.

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