Integrantes da banda Garotos Podres foram indiciados em 2025 em um inquérito policial motivado pela música “Papai Noel Velho Batuta”, lançada há quatro décadas no álbum Mais Podres do que Nunca. O caso, ocorrido neste ano, reacendeu o debate sobre liberdade de expressão artística e o uso do aparato penal como mecanismo de censura indireta.
Integrantes da banda Garotos Podres foram indiciados em 2025 por causa da música “Papai Noel Velho Batuta”, lançada em 1985. pic.twitter.com/yXlzaonqzz
— Portal Estado do Pará Online (@Estadopaonline) December 21, 2025
A canção foi composta e divulgada nos anos finais da ditadura militar e se insere no contexto do punk brasileiro, marcado pela sátira social, ironia e crítica política. À época, obras do gênero eram alvo de restrições administrativas, como vetos à execução em rádios e eventos, prática comum no período autoritário.
Da censura administrativa à criminalização da arte
Especialistas em direito constitucional e pesquisadores da cultura apontam que há uma diferença substantiva entre a censura praticada nos anos 1980 e o cenário atual. Enquanto no passado o controle estatal se dava por atos administrativos explícitos, o episódio de 2025 envolve a abertura de investigação criminal e o indiciamento formal de músicos por uma obra histórica.
Segundo juristas ouvidos por entidades culturais, esse tipo de procedimento gera efeito intimidatório mesmo sem condenação, ao submeter artistas a depoimentos e constrangimentos legais por manifestações artísticas consolidadas e amplamente conhecidas.
Atuação de grupos de extrema-direita
O inquérito teve origem em denúncias apresentadas por grupos de extrema-direita, que passaram a interpretar de forma literal letras satíricas para sustentar acusações de incitação à violência. Para estudiosos, essa estratégia ignora o contexto histórico da obra e desconsidera a linguagem simbólica própria da arte.
Entidades de defesa da liberdade de expressão avaliam que o caso ultrapassa a trajetória da banda e estabelece um precedente preocupante, ao permitir que obras do passado sejam reavaliadas sob pressão ideológica contemporânea. Até o momento, não há informação de denúncia oferecida à Justiça, e o caso segue em fase de investigação.











Deixe um comentário