Um estudo divulgado nesta sexta-feira (5) pela Fundação Getulio Vargas (FGV), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), mostra que 60,7% das pessoas que recebiam o Bolsa Família em 2014 deixaram o programa nos dez anos seguintes. O levantamento analisou a chamada “segunda geração” de beneficiários: crianças e jovens que cresceram dentro da política social.
A maior taxa de saída aparece entre quem tinha de 15 a 17 anos em 2014: 71,25% não precisaram mais do benefício uma década depois. Entre jovens de 11 a 14 anos, a proporção é de 68,8%. Já no grupo das crianças de até 4 anos na época, 41,26% deixaram o Bolsa Família no mesmo período.
O pesquisador Valdemar Rodrigues de Pinho Neto, responsável pelo estudo, afirma que os dados reforçam o papel do programa na mobilidade social, e não apenas no alívio da pobreza imediata. Ele destaca a importância das condicionalidades de educação e saúde, como a exigência de matrícula escolar, vacinação e acompanhamento pré-natal, que ajudam a criar condições para que os jovens ingressem no mercado de trabalho. Segundo o estudo, entre os beneficiários que tinham 15 a 17 anos em 2014, 28,4% estavam empregados formalmente em 2024, e mais da metade, cerca de 52,67%, já havia deixado o Cadastro Único.
Os pesquisadores identificaram também que o contexto das famílias influencia a saída do programa. Jovens que vivem em áreas urbanas, por exemplo, deixam o Bolsa Família em proporção maior do que os que vivem em zonas rurais. A escolaridade e a situação de trabalho da pessoa de referência da família também aparecem como fatores decisivos: onde há emprego formal ou maior nível de instrução, as chances de superação da pobreza aumentam.
A pesquisa também analisou os resultados do Novo Bolsa Família, versão relançada do programa em 2023. Entre as famílias que recebiam o benefício no início daquele ano, 31,25% já haviam deixado o programa até outubro de 2025. Entre adolescentes de 15 a 17 anos, a taxa sobe para 42,59%, indicando tendência de continuidade na mobilidade social das gerações mais jovens. Nesse mesmo período, o fluxo de entrada de novas famílias foi menor que o de saída, sugerindo estabilidade ou leve redução no total de beneficiários.
O estudo destaca ainda dois mecanismos da atual versão do programa que favorecem essa transição: a regra de proteção, que permite ao beneficiário manter o auxílio temporariamente após conseguir emprego, e o Programa Acredita, voltado ao microcrédito para empreendedores de baixa renda. Para os pesquisadores, essas ferramentas tornam mais suave a passagem do auxílio para a renda própria.
Atualmente, o Bolsa Família atende famílias com renda mensal de até R$ 218 por pessoa. O benefício base é de R$ 600, valor que pode aumentar quando há crianças, adolescentes ou gestantes na residência. Em novembro, o programa somava 18,65 milhões de famílias e custo de R$ 12,69 bilhões.
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