A Amazônia paraense chega ao centro do debate sobre arte e diversidade com a exposição “Tybyras: Caminhos de uma Amazônia Queer”, do artista paraense Henrique Montagne, que ocupa o Museu da Diversidade Sexual (MDS), em São Paulo, o primeiro museu LGBTQIA+ da América Latina. A mostra reúne fotografias, desenhos e textos que conectam história, memória e resistência de corpos dissidentes amazônicos. A exposição fica em cartaz até 11 de janeiro de 2026.
No trabalho, Montagne revisita a trajetória de Tybyra do Maranhão, indígena tupinambá executado em 1614 sob acusação de “sodomia”, considerado o primeiro caso documentado de morte por LGBTfobia no Brasil. A partir dessa violenta ruptura histórica, o artista cria uma ponte entre o passado e as vivências de pessoas LGBTQIA+ da Amazônia contemporâneas.
“Vir da periferia, estudar artes e trazer esse trabalho que nasce de afetos amazônicos para o outro lado do país é uma conquista simbólica enorme. A Amazônia também produz pensamento, arte e política queer”, afirma Montagne. “Estar no Museu da Diversidade Sexual é afirmar que nossa existência também é história”, disse.

Para construir a exposição, o artista percorreu diversas regiões amazônicas, como Mairi (antigo nome de Belém), Ilha do Marajó, Carajás e Tapajós, reunindo relatos e experiências de pessoas LGBTQIA+. Dessa jornada, surgiu o que ele chama de um “aldeamento simbólico” ‒ um espaço de afetos, memória e cura diante dos apagamentos coloniais.
Montagne destaca que sua pesquisa busca ampliar os diálogos sobre sexualidade, gênero, história, biologia, clima e território amazônico. “É fundamental trazer esses debates de maneira viva, conectando passado e presente”, afirmou o artista.
Retomada após censura
“Tybyras” também marca um novo momento na carreira do artista. Em 2021, uma exposição sua com temática homoafetiva, já aprovada em edital público, foi cancelada sem justificativa pelo patrocinador na véspera da abertura, episódio que ganhou repercussão nacional e levantou debates sobre censura moral na arte. Mesmo após a interrupção do ciclo de exibições, Montagne seguiu produzindo a partir da Amazônia.
Agora, com apoio do Programa Nacional Aldir Blanc (PNAB), a mostra integra sua circulação nacional e reforça sua presença em debates artísticos no Brasil e no exterior, incluindo passagens por Portugal, Estados Unidos e Grécia. Levar o trabalho ao MDS, afirma o artista, é um gesto político: “Minha obra nasce da resistência, e o museu também”, destacou.
A gerente do Museu da Diversidade Sexual, Beatriz Oliveira, destaca a importância da presença amazônica no espaço: “Ao trazer um artista jovem da Amazônia, reafirmamos o museu como lugar de resistência e visibilidade. A obra de Henrique amplia a compreensão sobre diversidade e meio ambiente. Mostra que a Amazônia também é queer, viva e múltipla”, dissd.
Serviço
Exposição: Tybyras: Caminhos de uma Amazônia Queer
Local: Museu da Diversidade Sexual — Praça da República, 299, São Paulo
Período: Até 11 de janeiro de 2026
Horário: Terça a domingo, das 10h às 18h
Entrada: Gratuita
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