A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou, nesta segunda-feira (1º), a primeira diretriz global sobre o uso de medicamentos agonistas de GLP-1 — popularmente conhecidos como “canetas” — no tratamento da obesidade. O documento marca um avanço na estratégia internacional para enfrentar uma doença que cresce em ritmo acelerado no mundo.
Em comunicado oficial, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que a entidade passa a reconhecer oficialmente a obesidade como uma doença crônica que exige cuidado contínuo e abordagem abrangente. Segundo ele, o objetivo é apoiar países na oferta de tratamentos mais eficazes e equitativos.
Obesidade em alta no mundo
A OMS alerta que a obesidade, considerada uma condição complexa, segue entre os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer. Somente em 2024, a doença esteve associada a 3,7 milhões de mortes.
A projeção da entidade é de que o número de pessoas com obesidade pode dobrar até 2030, caso não haja ações robustas de prevenção e tratamento.
O que dizem as novas diretrizes
O documento traz duas declarações centrais sobre como deve ser conduzido o tratamento da obesidade:
1. Obesidade exige cuidado contínuo
A OMS afirma que o manejo da doença deve começar com diagnóstico precoce e acompanhamento clínico permanente. A diretriz recomenda:
- acesso a programas de cuidado crônico;
- intervenções de estilo de vida e comportamento;
- uso de medicamentos, cirurgias ou outras terapias quando adequado.
A entidade lista ainda os medicamentos contemplados pela recomendação condicional: liraglutida (Victoza e Saxenda), semaglutida (Ozempic e Wegovy) e tirzepatida (Mounjaro). Segundo a OMS, há evidências clínicas de “certeza moderada” sobre sua eficácia no tratamento de longo prazo.
2. Mudança de estilo de vida continua sendo essencial
A segunda orientação destaca que pacientes com obesidade devem receber aconselhamento sobre alimentação saudável, prática de atividade física e mudanças comportamentais. Para quem recebe prescrição dos agonistas GLP-1, esse acompanhamento deve fazer parte de uma terapia comportamental intensiva, recomendação também classificada como condicional devido à baixa certeza das evidências disponíveis.
Limitações e desafios
A OMS ressalta que ainda há lacunas importantes nas pesquisas, como:
- possíveis efeitos dos medicamentos na fertilidade de mulheres com obesidade;
- definição de quais populações devem ser priorizadas;
- impacto dos tratamentos em diferentes faixas etárias, gêneros e grupos étnicos.
A entidade também reforça que os medicamentos, embora eficazes, não são suficientes sozinhos. O sucesso do tratamento depende de políticas públicas que promovam ambientes saudáveis, detecção precoce e acesso a cuidados contínuos.
Acesso e equidade
Um dos principais alertas da OMS é o risco de ampliação das desigualdades. Sem políticas de acesso, os medicamentos — de alto custo e em expansão no mercado — podem ficar restritos a pequenas parcelas da população.
Por isso, a organização recomenda:
- aumento da produção global dos medicamentos;
- redução de preços;
- fortalecimento dos sistemas de saúde;
- garantia de acesso equitativo às terapias GLP-1.
A diretriz reforça que a obesidade deve ser tratada como uma prioridade global de saúde pública e que a adoção coordenada dessas medidas pode evitar milhões de mortes nas próximas décadas.
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