O mapa tributário do Brasil acaba de mudar — e, no Norte, nenhum estado deve sentir esse impacto tão de perto quanto o Pará. Em uma semana marcada por expectativas na área econômica, o governo federal oficializou a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), garantindo que quem recebe até R$ 5 mil mensais deixe de pagar o tributo. A decisão, aguardada há anos, passa a valer já na próxima declaração.
Para o contribuinte paraense, a novidade tem peso concreto. Hoje, cerca de 340 mil moradores do estado não recolhem Imposto de Renda. Com a atualização da tabela, esse número deve abrir caminho para um salto que ultrapassa 560 mil isentos — praticamente metade de todos os declarantes do Pará.
Segundo estimativas do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita Federal (CETAD), mais de 224 mil trabalhadores do estado, que se enquadram na nova faixa de isenção, deixarão de ver o IR aparecendo no contracheque a partir de 2026. Já outros 119,5 mil paraenses, com renda entre R$ 5 mil e R$ 7,35 mil, terão abatimentos progressivos, reduzindo consideravelmente o valor pago.
Peso nacional, efeito regional
No Brasil inteiro, cerca de 15 milhões de pessoas serão beneficiadas diretamente — 10 milhões ficarão totalmente isentas, enquanto 5 milhões terão desconto. Mas especialistas apontam que, em estados com grande participação de trabalhadores com rendas mais baixas e forte informalidade, como o Pará, a nova política deve produzir efeitos especialmente visíveis.
Com mais famílias livres da cobrança, o dinheiro que antes ia para a tributação tende a circular no comércio, influenciando desde pequenas feiras até grandes centros urbanos. Em Belém, por exemplo, economistas já projetam aquecimento no setor de serviços e no consumo diário.
Compensação no topo da pirâmide
Para recompor a arrecadação, a lei cria uma tributação adicional sobre rendas acima de R$ 600 mil anuais — um grupo formado por cerca de 140 mil contribuintes em todo o país. A cobrança é progressiva e pode chegar a 10%, sem alterar a situação de quem já paga alíquotas iguais ou superiores. Assim, o governo afirma que o ajuste não afeta o financiamento de políticas públicas.
Alguns tipos de rendimento permanecem fora dessa conta, como heranças, doações, indenizações, rendimentos acumulados, lucros isentos e aposentadorias por moléstia grave. A legislação também estabelece limites para impedir que, somados, os impostos pagos por empresas e pessoas ultrapassem percentuais definidos. Caso isso aconteça, o contribuinte terá direito a restituição.
Um compromisso político que ganhou forma
Prometida ainda durante a campanha presidencial, a ampliação da faixa de isenção entrou no Congresso em março e percorreu um caminho raro: foi aprovada por unanimidade na Câmara e no Senado. A sanção marca um passo simbólico na tentativa de modernizar a política tributária do país.
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