O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz (União Democrática Cristã), neste sábado (22), em Joanesburgo, durante a agenda do G20, acabou produzindo um desfecho bem diferente do que muitos imaginavam. Depois da repercussão negativa de suas declarações sobre Belém durante a COP-30, Merz não apareceu com pedido de desculpas, mas apareceu com dinheiro. E não pouco: 1 bilhão de euros, cerca de R$ 6 bilhões, destinados ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).
A nota do Palácio do Planalto não menciona retratação alguma. Mas registra um gesto diplomático mais robusto que qualquer mea-culpa: a Alemanha reafirmou o aporte bilionário para preservação das florestas tropicais, criado na COP-30, em Belém. No jogo das relações internacionais, Merz não voltou atrás no discurso, mas voltou com investimento.Igor N
Segundo o comunicado, Lula e Merz acertaram o reforço da cooperação comercial, tecnológica, cultural e social, além do compromisso comum com o multilateralismo e o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Lula também confirmou presença na feira industrial de Hannover, em abril de 2026, a convite de Merz. E, no movimento diplomático clássico, convidou o chanceler a realizar visita de Estado ao Brasil. O alemão, por sua vez, manifestou entusiasmo com o país e reiterou o apoio público ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).
No encerramento do encontro, Lula chamou a equipe presente – incluindo o ministro Fernando Haddad – para um cumprimento coletivo e cravou: “Brasil e Alemanha: unidos para sempre.”
“Essa é a imagem que vou levar para a Alemanha: fortes parceiros e amigos. Dos passos de dança às especialidades da floresta, estou ansioso para minha próxima visita ao Brasil.”
Frase de Merz em vídeo publicado ao lado de Lula em suas redes sociais.
A polêmica: de Belém à diplomacia climática
A turbulência começou em 13 de novembro, quando Merz, em discurso no Congresso Alemão do Comércio, relatou que jornalistas alemães teriam ficado felizes por deixar Belém após a COP-30. A fala foi interpretada como crítica direta à cidade e caiu como uma bomba no Pará.
O prefeito de Belém, Igor Normando e o governador do Pará, Helder Barbalho reagiram imediatamente, classificando o discurso como arrogante e preconceituoso. Lula respondeu alguns dias depois, defendendo o Pará, exaltando a cultura local e dizendo que Berlim não entrega “10% da qualidade” oferecida por Belém.
Apesar da tensão, o chanceler insistiu que seus comentários foram mal interpretados e chegou a elogiar a organização e infraestrutura da COP-30 em reunião anterior com Lula.
Bilhões para virar a página
A crise serviu de pano de fundo para um gesto político de alto impacto. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, já havia antecipado que a Alemanha faria novo aporte ao fundo florestal. O encontro deste sábado (22) fechou o compromisso oficialmente.
No fim das contas, Merz saiu do episódio sem pedir desculpas, mas assinando um investimento monumental para a proteção da Amazônia. Para Brasília, a mensagem é clara: divergências pontuais não impedem a construção de uma parceria estratégica, especialmente quando envolve bilhões para a preservação ambiental.
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