UFPA desenvolve petroquímica verde e transforma resíduos amazônicos em combustíveis - Estado do Pará Online

UFPA desenvolve petroquímica verde e transforma resíduos amazônicos em combustíveis

Pesquisas do Instituto de Tecnologia avançam na produção de biocombustíveis a partir de caroços de frutas, subprodutos industriais e até cannabis apreendida, com foco em soluções sustentáveis apresentadas na COP30.

Reprodução / Internet

A Amazônia passou a fornecer não apenas biodiversidade, mas também combustível. No Instituto de Tecnologia da UFPA, pesquisadores transformam resíduos vegetais, antes descartados, em biocombustíveis que vão de gasolina verde a querosene de aviação. O trabalho, apontado como um dos avanços científicos mais promissores da COP30, aposta em cadeias produtivas locais como fonte de uma petroquímica de baixo impacto ambiental.

O laboratório responsável pela pesquisa concentra seus esforços na conversão termoquímica de resíduos agroindustriais. Caroços de açaí, tucumã, palma, cacau e outros materiais ricos em carbono e hidrogênio alimentam o processo. Ao atingir altas temperaturas em ambiente sem oxigênio, a biomassa se transforma em biogás, bio-óleo e biocarvã, base para combustíveis, asfaltos e filtros de purificação de água.

O projeto é coordenado pelo professor Nélio Teixeira Machado, referência nacional na área de bioenergia. Ele lidera uma equipe multidisciplinar formada por docentes de Engenharia Química, Biotecnologia e Engenharia Sanitária, além de bolsistas de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Segundo o pesquisador, qualquer biomassa com lignina, um componente estrutural das plantas, pode originar derivados similares aos do petróleo.

No laboratório, o caminho da transformação começa pelo pré-tratamento do resíduo. Os caroços de açaí, por exemplo, são limpos, secos e moídos. Em seguida, passam por ativação química utilizando hidróxido de sódio, um subproduto da indústria da bauxita. A pirólise faz o restante: gera um biogás com alto potencial energético, um bio-óleo que pode ser destilado em combustíveis verdes e um carvão poroso apto para fabricar filtros usados na desinfecção de água em comunidades isoladas.

A pesquisa ganhou novos contornos recentemente. Em parceria com a Polícia Federal no Pará e a Universidade Federal de Santa Catarina, o laboratório passou a analisar a cannabis apreendida. Em vez de seguir para incineração, um processo caro e poluente, o material está sendo convertido em combustíveis e insumos de alto valor agregado. Os testes, conduzidos há um ano e meio, comprovam que a planta produz bio-óleo e biogás semelhantes aos gerados pelas demais biomassas estudadas.

A logística da incineração tradicional é onerosa e exige deslocamento de agentes federais para acompanhamento. Produzir biocombustíveis a partir desse material reduz custos, impactos ambientais e elimina a necessidade de fornos industriais. Para isso, a cannabis é processada em laboratório montado dentro da própria PF. Durante a pirólise, as moléculas se quebram e dão origem a compostos capazes de gerar gasolina verde, diesel, querosene e materiais aplicados na remediação ambiental.

O potencial de expansão é amplo. O grupo da UFPA planeja agora novas rotas tecnológicas para hidrogênio verde e combustível sustentável de aviação (SAF). A lignina presente na cannabis, destaca Machado, oferece características ideais para esse tipo de aplicação, podendo inclusive ser convertida em grafeno.

As pesquisas, somadas, apontam para um novo ciclo de aproveitamento da biodiversidade amazônica: menos resíduos descartados, mais energia limpa e tecnologia desenvolvida na região.

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