Por Edir Veiga* em seu Bilhetim
Com a supremacia dos smartphones como núcleo irradiador de comunicações e informações, todos os meios de comunicações tradicionais como rádio, jornal e televisão migraram para este centro irradiador, em tempo real de comunicação e informação. Muitos intelectuais vêm dando muito mais destaques ao meio de comunicação do que ao conteúdo da informação.
Voltando-me especificamente para a questão da conquista do voto, começo a refletir sobre as grandes transformações que vêm ocorrendo na decisão do voto, que exigem muita observação e tomada de decisão política dos competidores eleitorais. As tradicionais teorias do comportamento eleitoral e decisão do voto precisam ser atualizadas.
Teoricamente temos as diversas teoria do voto: teoria da escolha racional se refere a cálculos estratégicos realizados pelo eleitor entre as promessas e os resultados de gestão do governante incumbente, caso as promessas suplantem as realizações a tendência é o eleitor votar contra o governante.
A teoria sociológica explica a decisão voto a partir da correlação entre o eleitor e o grupo social na qual ele está inserido, sugerindo que o voto é o resultado da interação entre eleitor e o seu agrupamento social.
A teoria psicológica explica a decisão do voto do eleitor correlacionando, crenças, valores, hábitos do eleitor com os candidatos que se apresentam na competição eleitoral. O candidato que apresentar uma plataforma eleitoral que se conecte com os valores e crenças do eleitor, terá maior chance de conquistar aquele voto.
A teoria da inteligência efetiva correlaciona voto com as emoções do eleitor, o candidato que conseguir falar ao coração do eleitor, muito mais do que à razão, teria maiores probabilidades de conquistar aquele voto.
Comentando, inicialmente sobre estas diversas teorias do voto, eu teria duas observações a fazer: primeiro, nenhuma destas explicações consegue dar, sozinha, uma explicação satisfatória sobre a decisão, do voto. Quer dizer, como nosso país é multi-segmentado, nós encontraríamos todos estes tipos de eleitores no Brasil.
Segundo, o candidato ou partido, teria de georreferenciar estes diversos grupos de eleitores e então buscar dialogar com todos eles, tendo como base seu conteúdo programático, sua história política e seus valores culturais e morais, para então, cientificamente realizar uma disputa capaz de atingir esta pluralidade de pessoas.
Mas o que vem chamando minha atenção nas últimas eleições presidenciais e legislativas no Brasil, é que a política vem deixando de ser referência para as grandes tomadas de decisão eleitoral no Brasil, em pelo menos a metade do eleitorado. Quer dizer o seguinte: a metade da população não está recompensando o governo pelo resultado de gestão, ou seja, o voto não vem sendo o resultado de avaliação do desempenho do governo incumbente.
Por outro lado, outra metade do eleitorado, vem decidindo seu voto com base na avaliação de governo. Quer dizer, estes segmentos de eleitores conseguem avaliar o resultado da gestão após 4 anos de mandato e decide seu voto com base em cálculos entre a promessa de campanha e o resultado da gestão.
Vamos clarificar este raciocínio: o governo Bolsonaro entre 2019 e 2022, teve como característica central de seu projeto de governo a desconstrução do embrionário estado social brasileiro: não concedeu reajuste anual ao salário mínimo acima da inflação, não reajustou o salário do funcionalismo federal, cortou verbas de investimento das universidades, privatizou várias empresas estatais estratégicas, não fez nenhuma expansão dos serviços federais de saúde, educação, meio ambiente, não pagou precatórios, etc.
No entanto, Bolsonaro tem muitos partidários no funcionalismo federal, desde o auxiliar de serviços gerais, até professores. Vemos trabalhadores que rebem um salário mínimo que brigam pelas ideias emitidas pelas redes sociais e pelo partido ligado a este ex presidente. Vemos hoje as pesquisas mostrarem a expansão do voto bolsonarista no nordeste. No norte, a região mais pobre do Brasil, encontramos uma supremacia avassaladora das ideias bolsonaristas.
Posso concluir que uma variável interveniente profunda está inserida nas interações sociais e políticas que fazem o eleitor decidir seu voto: as crenças religiosas, os valores, os costumes e a organização celular, nas igrejas, dos chefes religiosos e donos do voto conservador. Não devemos esquecer que 15 mil padres assinaram em 2022, manifesto de apoio a Bolsonaro.
Os segmentos progressistas não conseguiram processar esta nova realidade do voto no Brasil. A metade dos brasileiros está mais interessado em buscar uma vida melhor no mundo dos espíritos do que na vida terrena. O jogo entre Deus e o Diabo nesta terra super desigual, tem levado os chefes teocráticos à uma vitória política eleitoral, crescente e sem igual na política brasileira.
Outra grande novidade desta realidade teológica na política, é que agora, os políticos conservadores e ultraconservadores estão ocupando os lugares dos pastores na captura do voto teocrático/religioso. O maior exemplo disso tudo é Bolsonaro, é Caiado, é Tarcísio de Freitas, é Éder Mauro, É Zema, e assim por diante.
Todos as velhas raposas da política agora defendem a família tradicional, combatem o aborto, combatem a livre orientação sexual, defendem o massacre de bandidos no morro, como política de segurança. Em quanto isso, prefeitos de extrema direito, toda semana são presos, flagrados em corrupção.
Mais uma vez parece, que nas eleições de 2026 teremos a supremacia da direita e seu extremo, vestidos de batinas amealhando votos nas paróquias e migro igrejas espalhadas em cada ruela das periferias das grandes cidades e pequenas cidades. Mais uma vez o pobre surge cometendo suicídio político em nome de uma boa vida no céu apregoado pelas igrejas/comitês partidários.
Em síntese, estamos assistindo uma hegemonia cultural e moral das direitas sobre a metade do eleitorado. A política só é percebida pela metade da população. A outra metade, está complemente imersa no discurso religioso, em vez de serem eleitores, são ovelhas de pastores viciados no enriquecimento.
E as esquerdas? Bem as esquerdas ainda não se dispuseram a discutir abertamente seus valores éticos, culturais e morais plurais, diversos, inclusivos. Nem nas redes sociais ouvimos debates sobre a conquista civilizatória que foi a separação entre Estado e religião. Ninguém discute, que a política é responsabilidade de homens e mulheres e não de Deus. Deus cuida das almas e do mundo espiritual. Deus não tem nenhuma responsabilidade com relação a governos, guerra, corrupção, etc. Os pensadores iluministas, deixaram, do ponto de vista filosófico, esta questão muito clara.
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