A projeção global conquistada por Belém durante a COP 30 abriu um caminho que o poder público tenta preservar. Foi nesse contexto que o prefeito Igor Normando detalhou, na Green Zone, iniciativas para manter a cidade no radar de visitantes e de eventos de grande porte.
O debate ocorreu no painel “O futuro do turismo na Amazônia pós-COP 30”, que reuniu também Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae no Pará, e o especialista em sustentabilidade Daniel Cady. O foco foi mostrar como o município pretende sustentar o impulso gerado pelo encontro climático.
Durante sua fala, Normando destacou que o maior impacto do evento foi devolver aos belenenses o senso de pertencimento. Para ele, a cidade reencontra uma oportunidade histórica: “Belém esperou mais de um século para ter, novamente, a chance de liderar um novo momento para o planeta. No ciclo da borracha, fomos uma das cidades que mais cresciam no mundo. Tínhamos bolsa de valores, prédios grandiosos, mas não acompanhamos o avanço do tempo e ficamos para trás. Hoje, essa oportunidade voltou e ela nasce da nossa maior riqueza: as nossas florestas, a força dos nossos rios e a energia do nosso povo”, afirmou.
A fala resgatou o paralelo com o ciclo da borracha, quando Belém despontou como uma das cidades mais dinâmicas do mundo. O prefeito reforçou que, agora, a força vem das “nossas florestas, dos rios e da energia do nosso povo”.
Com a visibilidade conquistada, o município trabalha para fortalecer setores ligados ao turismo. A proposta envolve ampliar a divulgação da cidade no Brasil e no exterior, conectando manifestações culturais, gastronomia, belezas naturais e sustentabilidade a um modelo turístico contínuo.
Parcerias institucionais aparecem como alicerce dessa estratégia. Um dos exemplos mais mencionados foi a recente entrega do Solar da Beira, no Complexo do Ver-o-Peso, transformado em espaço para microempreendedores e iniciativas de bioeconomia — resultado da cooperação entre a Prefeitura e o Sebrae.
O prefeito ressaltou que esse tipo de articulação tem sido determinante: “Em um ano, conseguimos construir algo extraordinário, graças à união dos governos Federal e Estadual e de muitos outros parceiros”.
A gestão municipal também projeta novas agendas culturais e gastronômicas para os próximos meses, buscando consolidar Belém como destino turístico permanente. A expectativa é que a economia local continue em ritmo aquecido com hospedagens, bares, restaurantes e comércio fortalecidos por um fluxo crescente de visitantes.












A riqueza econômica da “Belle Epoque” em Belém deixou um expressivo legado de belas edificações.
Motivado por ignorância e/ou ganância, perdemos parte desse patrimônio (como o Grande Hotel, a Fábrica Palmeira, o Reservatório Paes de Carvalho, a maioria dos chalés de ferro, entre tantos outros), mas, o que restou há décadas compõe e identifica parte da paisagem urbana tradicional de Belém, um dos atrativos turísticos locais. E por tudo o que representa deve ser preservado.
A “Belle Epoque” foi relevante, mas efêmera, porque apoiada em atividades econômicas primárias e insustentáveis, como a produção de borracha, a partir do cultivo de seringeiras, com uso de mão-de-obra em condições análogas à escravidão, e sem industrialização; e o extrativismo florestal e mineral predatórios, que persiste até hoje, agora camuflado por falácias de “mineração sustentável”.
Ainda hoje, as principais atividades econômicas permanecem predatórias e insustentáveis, como desmatamento e destruição de ecossistemas, para monoculturas extensivas, e intenso uso de venenosos pesticidas, que contaminam os recursos naturais e adoecem a população; e a mineração, que agora aparece “modernizada” com a entrada de mineradoras de países ricos, onde tudo é “limpinho e cheiroso”, mas causam enormes impactos ambientais e sociais aqui.
Essas atividades enriquecem os proprietários das corporações exploradoras, sabe-se lá mais quem? Não têm sido benéficas, porém, para as populações locais, que continuam na pobreza, e agora, doentes.
Se o poder público tem real interesse em desenvolver o turismo receptivo, ao invés dos discursos de “maquiagem verde”, terá que concentrar seus esforços em recuperar e preservar o patrimônio natural e cultural, que são atrativos turísticos únicos, mas frágeis.
Se bem administrado o turismo pode, de fato, ser um fator de dinamização da economia, aumento do nível de emprego e renda, e melhoria de qualidade de vida. Ademais, há premente necessidade de tempestivas ações para estabelecer regras e limites nas atividades de turismo receptivo, para evitar a predação de nossos recursos , e danos e prejuízos às populações locais.