Enquanto a COP30 se aproxima do fim, nesta sexta-feira (21), Belém também se torna palco de uma disputa diplomática que pode definir o futuro da agenda climática global. Austrália e Turquia travam, desde 2022, uma batalha para sediar a COP31 — e a falta de consenso entre os países do bloco responsável pela escolha já levanta a possibilidade de um plano alternativo.
A tentativa mais recente de destravar o impasse partiu da Turquia, que propôs co-organizar a conferência com a Austrália. A iniciativa, no entanto, foi rejeitada pelo primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese.
“Não, não seremos co-anfitriões, porque a co-organização não está prevista nas regras da UNFCCC. Essa não é uma opção, e as pessoas sabem disso”, declarou o premiê, em entrevista coletiva na segunda-feira (17), em Melbourne.
Disputa antiga
Ambos os países apresentaram suas candidaturas para sediar a conferência em 2022 e, desde então, nenhum deles recuou. A Turquia argumenta que quer uma COP focada no financiamento climático para países em desenvolvimento e que também deseja apresentar ao mundo seus avanços rumo à meta de emissões líquidas zero até 2053.
A Austrália, por outro lado, afirma que não vetará uma eventual vitória turca, mas alerta que o prolongamento do impasse pode prejudicar a unidade necessária para apoiar as nações insulares do Pacífico — regiões severamente afetadas pelo aumento do nível do mar.
“O que buscamos é garantir que o Pacífico se beneficie disso”, disse Albanese. “Continuamos em diálogo para proteger os interesses das ilhas.”
Segundo um porta-voz do governo australiano, o país segue firme na disputa. “A Austrália tem apoio esmagador de seus pares. Se a Turquia fosse escolhida, não bloquearíamos a candidatura, e esperamos que o mesmo ocorra caso a Austrália vença”, afirmou.
A proposta australiana para sediar a COP31 conta com o apoio do Fórum das Ilhas do Pacífico, composto por 18 países. Essas nações pressionam por mais recursos para financiamento climático e pela aceleração da redução global de emissões.
Como é escolhida a sede da COP
A cidade-sede da conferência climática da ONU é definida por consenso dentro do grupo regional responsável por organizar a edição. Em 2025, a decisão cabe ao bloco “Europa Ocidental e Outros”, que inclui Austrália e Turquia. Para que o anúncio seja oficializado, todos os membros precisam concordar — o que torna a disputa particularmente sensível. O consenso deve ser alcançado até o fim da COP30, em Belém.
E se não houver acordo?
Caso a negociação não avance até o encerramento oficial da conferência, previsto para sexta (21), a regra prevê que a COP31 seja realizada no país-sede da UNFCCC: a Alemanha. Nesse cenário, embora Bonn seja tradicionalmente cogitada, a cidade informou não ter estrutura para receber um evento do porte da COP. Assim, Berlim surge como alternativa mais viável.
Se o impasse persistir, o mandato para definição da sede pode ser estendido até 2027, prolongando a disputa e aumentando a pressão diplomática sobre os países envolvidos.
A expectativa é de que o desfecho seja anunciado ainda em Belém, mas, até agora, nenhum dos dois lados indica disposição para recuar.
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