COP30: Brasil quer transformar SUS em modelo mundial contra impactos do clima - Estado do Pará Online

COP30: Brasil quer transformar SUS em modelo mundial contra impactos do clima

Plano articulado por Alexandre Padilha com países do grupo de Baku é apresentado na COP30, em Belém, e prevê desde unidades de saúde resilientes até novos mecanismos de financiamento internacional.

Rafa Neddermeyer / COP30

O Brasil assumiu nesta quinta-feira (13), em Belém, o protagonismo em uma das pautas mais sensíveis da COP30: a adaptação dos sistemas de saúde aos efeitos das mudanças climáticas. O governo apresentou o primeiro plano internacional voltado exclusivamente à preparação de serviços de saúde para enfrentar desastres ambientais e eventos extremos.

O documento, liderado pelo Ministério da Saúde, Alexandre Padilha, foi desenvolvido em parceria com Reino Unido, Egito, Azerbaijão e Emirados Árabes , países que sediaram as últimas conferências do clima e que formam o chamado grupo de Baku. A proposta busca alinhar ações conjuntas e fortalecer a resposta global diante dos impactos crescentes da crise climática sobre a saúde.

“Nós apresentamos a primeira formulação desse plano em maio, na Assembleia da Organização Mundial da Saúde, em Genebra. E, de lá para cá, foram feitas consultas públicas, reuniões temáticas e colaborações. Então, a expectativa é que dezenas de países anunciem formalmente o compromisso de implementar esse plano de ação nos seus países também”, afirmou o ministro Alexandre Padilha à Agência Brasil.

Entre as principais linhas de ação estão o monitoramento de dados sobre temperatura e perfil de adoecimento da população, a construção de unidades hospitalares preparadas para desastres e a ampliação do atendimento a comunidades mais vulneráveis. O plano também propõe que os sistemas nacionais de saúde mantenham estoques de água, energia e conectividade para garantir o funcionamento em situações críticas.

Um dos primeiros exemplos práticos será no Paraná. Rio Bonito do Iguaçu, cidade devastada por um tornado no último fim de semana, servirá como vitrine da iniciativa. “Vai ser um demonstrativo desse plano reconstruir as unidades de saúde lá com característica de unidade resiliente, que resista a eventos extremos e mantenha, por exemplo, o sistema de informação da Farmácia Popular”, explicou o ministro.

A proposta foi apresentada na Zona Azul, área de negociações oficiais da conferência, como parte da agenda comandada pela presidência brasileira da COP30. Embora a adesão dos países seja voluntária, o governo quer manter o tema da saúde como eixo central das resoluções finais da conferência.

Padilha destaca que o impacto do clima já é evidente no cotidiano do SUS: aumento de internações por calor extremo, avanço de doenças transmitidas por vetores, enchentes e estiagens mais frequentes. “A integração entre saúde e clima é o tema central do enfrentamento das mudanças climáticas. A saúde é a face mais crítica dessa crise”, reforçou.

Para viabilizar o plano, o Ministério da Saúde pretende redirecionar recursos internos e ampliar a captação internacional. O Brasil já recebeu cerca de US$ 160 milhões em investimentos externos voltados à adaptação do sistema de saúde e agora busca mais de US$ 350 milhões junto ao Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), do grupo dos Brics, para financiar os chamados hospitais inteligentes, estruturas projetadas para resistir a tragédias climáticas e manter o funcionamento mesmo em situações extremas.

Com o anúncio, o governo brasileiro tenta posicionar o SUS como exemplo global de resiliência, um sistema capaz não só de cuidar das pessoas, mas de resistir aos efeitos cada vez mais imprevisíveis do planeta em transformação.

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