Belém, sede da COP30, teria sido usada pelos EUA em testes biológicos com aves - Estado do Pará Online

Belém, sede da COP30, teria sido usada pelos EUA em testes biológicos com aves

Pesquisa revela que projeto dos anos 1960 pode ter servido a experimentos militares norte-americanos na Amazônia

Aves amazônicas preservadas em acervo do Smithsonian após coleta no Projeto Ecológico Belém.
Reprodução/Internet

Publicada no domingo (10), uma investigação conduzida pela historiadora Laura de Oliveira Sangiovanni aponta que milhares de aves amazônicas podem ter sido usadas em testes de armas biológicas por pesquisadores ligados aos Estados Unidos entre 1963 e 1971. O estudo indica que o chamado Projeto Ecológico Belém (BEP) operou sob fachada científica durante a ditadura militar brasileira, com apoio da Fundação Rockefeller e do Instituto Smithsonian.

Projeto em Belém e vínculo com o Exército norte-americano

Segundo a pesquisa, o ornitólogo Philip Strong Humphrey, vinculado ao Smithsonian, coordenou a captura e o envio de 4.426 aves brasileiras para os Estados Unidos, sendo 2.895 delas do Pará, sem registro de exportação na alfândega. O BEP teria funcionado na Área de Pesquisas Ecológicas do Guamá (APEG), conhecida como Mocambo, em Belém, com estrutura do Instituto Evandro Chagas, que abrigava um laboratório da Rockefeller.

Documentos sugerem que as aves eram capturadas, inoculadas com agentes virais, monitoradas e taxidermizadas antes de serem remetidas a Washington. Humphrey já era citado por envolvimento no Pacific Ocean Biological Survey Program (POBSP), identificado como parte de experimentos biológicos ligados à Guerra do Vietnã.

Ausência de registros e lacunas oficiais

A historiadora não localizou autorizações do CNPq, do SNI ou do Conselho de Fiscalização de Expedições Científicas, órgãos responsáveis por supervisionar pesquisas estrangeiras no país. Segundo ela, o uso de instituições brasileiras teria garantido blindagem institucional, permitindo o trânsito de material biológico sem controle governamental.

Entre os agentes estudados estariam o vírus da Encefalite Equina Venezuelana (VEE) e a bactéria da Febre Q, ambos utilizados em pesquisas militares norte-americanas. Embora não existam provas conclusivas, o cruzamento de cartas, relatórios e registros reforça a hipótese de que Belém tenha servido como laboratório experimental estrangeiro durante a Guerra Fria.

Repercussão e investigação contínua

O caso reacende debates sobre soberania científica e controle de pesquisas estrangeiras na Amazônia. Laura, professora da Universidade de Brasília (UnB), pretende retornar à capital paraense em busca de registros de epidemias nas comunidades próximas ao Mocambo nos anos 1960.

Nem o Smithsonian Institution nem autoridades brasileiras comentaram oficialmente as conclusões da pesquisa, publicada originalmente pela Agência Pública e repercutida pelo Opera Mundi.

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